domingo, 1 de agosto de 2010

Tudo fachada






Em meados dos anos 90, com o advento definitivo do CD como suporte musical hegemônico no mercado, não foram apenas os engenheiros de som que viram os matizes das gravações analógicas serem comprimidas nos bits dos registros digitais, mas também os artistas gráficos, designers e pintores tiveram que lidar com um desafio semelhante em sua área de criação. Os 31 x 31 cm da capa de papelão dos LPs estavam sendo "comprimidos" num papelote três vezes menor, de pouco mais de 14 x 12 cm, que a partir dali iria ostentar capa dos novos (e também dos antigos) discos.

Um ou outro artista ainda conseguiu se sair com soluções interessantes para o novo (e reduzido) tamanho das capas dos discos. Mas ficou claro que algo se perdeu entre a era dos discões, cujos encartes eram manuseados quase como um ritual que acompanhava toda a audição do LP; e a então novíssima era das caixinhas de plástico - que, como lembra Ruy Castro no artigo "O homem que inventou a capa do disco", vinham "envoltas num infernal preservativo à prova de unhas".
A imagem que durante décadas servia para apresentar, representar ou mesmo explicar a música gravada, ganhava um novo sentido na nova economia simbólica da era digital. Essa processo desaguaria, em nossos dias, na era da audição veloz e fragmentada, quando a tecnologia do MP3 e quejandos estilhaçou o conceito mercadológico do disco e apartou de vez som e imagem - ou pelo menos a imagem das antigas capas. Para o bem e para o mal, escuta-se cada vez menos álbuns para se escutar apenas e cada vez mais músicas, tão assistemáticas e diversas quanto mais nova for a tecnologia e o design do Ipod.

No entanto, a história gráfica da indústria fonográfica, que remonta a Alex Steinweiss, publicitário norte-americano que criou, em 1939, a primeira capa para um álbum, produziu peças antológicas, que ainda embalam os sentimentos dos mais saudosistas e fascinam os modernos de olhar mais delicado. Das capas leves e inteligentes dos discos do selo Blue Note ao tom repolhudo e pomposo das fachadas dos eruditos da Deutsche Grammophon. Da força das capas dos discos de rock dos anos 60 e 70 à explosão kitsch da música pop dos anos 80.
No Brasil, a história dos capistas de música começa com nomes como Paulo Brèves e Paez Torres, argentino radicado no Rio de Janeiro; passa por revolucionários como Cesar Villela, que assinou as capas da gravadora Elenco durante boa parte dos anos 60; até chegar em Elifas Andreato, a expressão maior dessa arte em nosso País. Da novíssima geração, destacam-se nomes como o cearense Renan Costa Lima, que assinou a capa de CDs de artistas como Céu e Cidadão Instigado.

Ao longo desse post, reuni algumas das capas que mais me fascinaram ao longo de minha vida de apreciador de música. E de discos. Naturalmente, não é possível medir a qualidade da música pelos truques e sacadas dos capistas e há casos notórios de grandes discos embalados por capas pífias. Mas, em geral - e a história do jazz, por exemplo, comprova isso -, uma boa capa é garantia de ótima música.

7 comentários:

dimitreze disse...

Curto muito ver capa de disco antiga! E nao ouço musica no suffle, tem que ser o album do comeco ao fim.
Gosto bastante desse grupo que fez varias capas louconas de bandas de rock dos anos 70. http://en.wikipedia.org/wiki/Hipgnosis

Sérgio disse...

Lembro das capas da Clara Nunes. Se não me engano, de autoria do Elifas Andreato. São sublimes.

margot disse...

Big Head,

O livro O Design Brasileiro Antes do Design, organizado por Rafael Cardoso, tem um capítulo muito bacana escrito pelo Egeu Laus. Fiz uma aula na Fanor outro dia sobre o assunto. Gostei de lê-lo por aqui.

Beijão!

marvioli disse...

Olá Felipe

Tô juntando os meus vinis com as capas do Elifas, Melo Menezes e Cafi para copiar e expor - por enquanto aqui em casa.

marvioli disse...

Felipe

só um reparo - se o lp tem 31 cm de lado - a área é de 361cm²

Felipe Araújo disse...

Vige!!! É isso mesmo. Errei feio na matemática. Valeu pela correção, caro Marcus. Abração.

Felipe Araújo disse...

Margot querida,
Seja sempre bem vinda.
Beijão