quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O canto contra a loucura


Elza Soares nasceu há 73 anos na favela de Água Santa, subúrbio de Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, "planeta da Fome", como desagravaria diante de um Ary Barroso estupefato em seu programa de rádio. Filha de uma lavadeira e um operário. Aos 12 anos, já era mãe. Aos 18, viúva. Casou-se novamente, viveu uma relação tumultuada com Garrincha, perdeu um filho. O canto, como definiria seu biógrafo José Louzeiro, era seu remédio diante de tantas tragédias. Elza cantava - e ainda canta - para não enlouquecer. Sua voz rouca, rascante, se impregnou da intensidade de sua biografia. Ceder à tentação de compará-la a cantoras como Billie Holiday ou Bessie Smith (pela força do canto e pela trajetória caótica) ou ainda Ella Fitzgerald (pelos scats virtuosos) seria uma injustiça com uma voz que, seja no samba ou no jazz, inaugurou uma trilha própria, que percorreu seu caminho movida apenas por seus músculos e vísceras. Seus discos - que, em geral, falam em alegria, em samba, em carnaval -, são o testemunho de sua crença na música, a arte à qual se entregou como pouquíssimas cantoras brasileiras.

Um comentário:

marvioli disse...

A abertura mudou e está ótima