sábado, 3 de maio de 2014

Deserto (poemetes araújos - XXIV)

                                                                                    Foto: Fábio Lima/O POVO


Fortaleza, esse deserto dos tártaros.
Ficção fora de lugar.
Lugar fora de si.
A não-cidade, fronteira morta:
Ceará.

Latitude irrelevante,
abandonada a humores de
 pequenas políticas.
E políticos pequenos.
Eles, sim, reais,
inteiros no busto de
suas rotundas ignorâncias
(no plural, porque é cretinice demais).
Vigilantes e diligentes na
truculência e na
barbárie:
cotidianas.

O que é nosso é apenas
esse projeto de ruína.
Aqui, a regência faz-se verbo.
Dos "reizinhos".
Essa ausência:
de sombras, árvores e leveza
é estratégia,
é crime
de memória remota.
Da época do "sabe com que umbigo você está falando?"

As linhas certas sempre
erram tua escrita torta.
Tristes tópicos, tristes trópicos
urbanos.

Fortaleza.
O tempo aqui
é um corruptor.
Nato.
Tua  civilização é inviável.
É sempre natimorta.