segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Barcelona e os colonizados



Artigo publicado no jornal O POVO na edição do dia 22.12.2011

O Barcelona é um time extraordinário? Sim! Dá gosto ver Messi e companhia em campo? Claro. O modelo do Barcelona deve servir ao futebol brasileiro? Alto lá. Devagar com o andor que há santos de barro (com trocadilho, por favor) nesse cortejo.
Muitos vaticinaram a impiedosa peia do time catalão sobre os santistas como o ocaso do futebol brasileiro. Um debate que me parece açodado.
Primeiro porque o Santos não é o melhor time brasileiro do momento (Neymar, sim, é nosso melhor jogador) e, nem de longe, representa uma escola brasileira (o estilo de Neymar sim). Os times de Muricy Ramalho, apesar dos títulos, costumam chatear os próprios torcedores por suas retrancas e sua pouca vibração tática.
Além disso, o estilo de jogo do Barcelona, dinâmico, com muitas variações de jogadas, pressão constante na marcação e muita rapidez no ataque – mas, registre-se, muito refém do talento de Messi - não é novo. E é muito brasileiro. Remonta, claro, à Holanda “mecânica” de 74. Mas também a times como o Flamengo de 1981, que tinha a liderança de Zico e uma extraordinária qualidade de passe. Ou a seleção de 70, em que, do meio pra frente, os jogadores também alternavam posições. Ou ainda às fanfarras de Didi, Vavá, Garrincha e Pelé.
Futebol pesado, duro, disciplinado, sempre foi uma marca europeia. Nós somos do improviso: da imprecisão, da dança e da beleza. No final dos anos 80, o Milan de Van Basten era o bicho papão e tornou célebre o esquema de jogo com o líbero. O Brasil passava por uma seca de títulos internacionais – inclusive, entre clubes – e o debate era semelhante. Precisávamos jogar como o Milan, seguir aquele modelo tático, etc, etc. Lazaroni, então técnico da seleção brasileira, foi na onda de copiar o modelo milanês. Deu no que deu.
Portanto, saudemos o Barcelona e seu belo futebol. Mas deixemos de lado esse pensamento colonizado. Aliás, por falar em colonizado, não era à toa que os portugueses conquistavam nossos índios oferecendo espelhos. Não deixa de ser uma alegoria oportuna.

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