terça-feira, 23 de novembro de 2010
O túmulo dos sambas
Todos os anos, a expectativa pelo lançamento do CD com os sambas de enredo do carnaval carioca mobiliza sambistas de todo o País. Este ano, no entanto, a espera teve um sabor especial pelas inovações no registro. Depois de uma tentativa relativamente bem sucedida no ano passado de gravar as baterias ao vivo e dar um astral diferente ao disco (que vinha se repetindo numa fórmula que destacava cordas e vozes e deixava a pulsação dos ritmistas em segundo plano), a Liesa (liga promotora do carnaval) resolveu aprimorar a proposta editando o CD com destaque às baterias e suas paradinhas e, novidade muito bacana, sem deixar intervalo entre as faixas. A audição se dá por inteiro, com o intérprete de uma escola, ao final de sua faixa, convidando o intérprete da escola seguinte e alternado seus gritos de guerra.
Diante dessas novas possibilidades e desse novo formato de gravação, alguns mestres de bateria acabaram exagerando na dose, abusando das paradinhas e bossas e quebrando o ritmo do registro - caso da Grande Rio, Porto da Pedra e Salgueiro. Outros souberam dosar o malabarismo rítmico (sem deixar de lado a virtuose das bossas) com o suingue e o balanço que a avenida exige e conseguiram realizar registros muito interessantes - caso da Beija Flor, Portela, Mocidade e União da Ilha. Tudo, no entanto, dentro da estrutura engessada de composição a que se reduziu o samba de enredo (refrão da cabeça + estrofe + refrão do meio + segunda estrofe). Boa parte dos sambas está, mais uma vez, impregnada dos clichês poéticos que ora tentam apresentar o enredo ora tentam se comunicar com o público, tentando estabelecer uma empatia cada vez mais fugaz e artificial com a plateia durante o desfile. No mais das vezes, não conseguem nem uma coisa nem outra.
Ainda assim, União da Ilha, Beija Flor e Portela, mesmo caindo nesse esquematismo, têm os melhores sambas e poderão, quem sabe, ultrapassar a posteridade cada vez mais efêmera da Sapucaí. Em geral, nos últimos anos, a passarela do carnaval - que sempre foi o túmulo dos desfiles, que, por sua própria natureza, morriam na avenida ao se consumarem - tem sido também o túmulo dos sambas de enredo.
Abaixo, aqueles que são, na opinião deste blogueiro, os melhores sambas do ano. Também vale a pena conferir, entre as escolas do grupo de acesso, o samba do Império Serrano, que fez uma bela homenagem a Vinícius de Morais.
1. União da Ilha
2. Portela
3. Beija Flor
4. Império Serrano (grupo de acesso)
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