terça-feira, 30 de novembro de 2010

Encaixotando Beth Carvalho


Ao lado de Nara Leão, foi Beth Carvalho quem promoveu o encontro da MPB "oficial" que se produzia entre o Rebouças e o mar, naquela segunda metade dos anos 60; com a música brasileira que pulsava nos morros e comunidades do subúrbio carioca. A partir desse encontro, como se sabe, o samba viveu um novo período de estandartização como música nacional, alimentada por um conjunto de compositores "de morro" (Zé Ketti, Nelson Cavaquinho, Zuzuca do Salgueiro, Monarco, etc.) que estreitavam as relações com os novos nomes da indústria fonográfica. Mas enquanto Nara continuou dialogando com diferentes perspectivas da música brasileira, Beth mergulhou de cabeça naquele universo, que lhe alçaria à condição de rainha: tanto pelo seu compromisso perene com o samba quanto pela descoberta de inúmeros compositores e intérpretes que ajudaria a projetar nacionalmente.
Uma caixa recentemente lançada pelo selo Discobertas, do incansável Marcelo Fróes, reúne toda a primeira década de trabalho de Beth (a maior parte dela pela gravadora Tapecar) e ajuda a contar a história dessa transição entre os padrões musicais da época (que Beth exerceu em coletâneas, trilhas de novelas e discos de festivais) e o novo/velho mundo do samba, que a cantora abraçaria em definitivo a partir de seu segundo disco, Canto por um novo dia (1972). Nesse trabalho, Beth gravou a velha (Mano Décio, Nelson Cavaquinho, Darcy da Mangueira e Manuel Santana) e a nova guarda do samba (João Nogueira, Gisa Nogueira, Martinho da Vila e Eduardo Gudin). No disco seguinte, alcançaria sucesso nacional com "1800 colinas", pérola de outro compositor "de morro", Gracia do Salgueiro. Na época, Nara já tinha retornado aos braços da bossa nova e de seus amigos velhos de "MPB", fazendo incursões bissextas pelo samba. Beth, no entanto, entregou a alma para aquela comunidade de poetas, compositores e ritmistas geniais e sofisticadamente simples. Pisou forte no chão e entrou para a eternidade de nossa música.

Abaixo, a gravação de "Se é pecado sambar", de Manoel Santana, que consta no disco Canto por um novo dia, resgatado por Fróes e reeditado na caixa.

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