sábado, 6 de novembro de 2010

Koln Concert: a catedral da improvisação


Bons discos podem entreter milhões de ouvintes, pela beleza de seus arranjos ou pela competência técnica de seus músicos. Discos extraordinários podem galvanizar a paixão de outros tantos, pela promessa de felicidade latente em cada faixa, pela força da interpretação, etc. Há discos, ainda mais raros, que chegam a mudar nosso jeito de escutar música, por nos propor novos sentidos, por modular nossa experiência estética em novas instâncias cognitivas e civilizatórias. Há discos, no entanto, que justificam toda uma vida. Koln Concert, o tour de force de Keith Jarrett gravado em 1975, é um deles.
Longo exercício de improvisão solo ao piano dividido em duas partes, ao longo das quais Jarrett entrelaça abordagens eruditas, jazzísticas e populares num resultado hipnótico, o disco foi gravado em difíceis condições técnicas (entre elas, um piano de som considerado insatisfatório por alguns críticos), mas ainda assim, tornou-se a catedral suntuosa do experimentalismo e, principalmente, do lirismo do pianista. Ao longo de sua carreira, Jarrett ainda iria redefinir o horizonte de possibilidades musicais para o trio de jazz, percorreria o leito seminal da canção norte-americana, dialogaria com o rock e a música pop; e levaria o experimentalismo a latitudes difíceis de se alcançar. Com o Koln Concert, ele estabeleceria um paradigma - ainda hoje insuperado - de improvisão (e beleza) ao piano.

P.S. - Da Parte I, gosto particularmente do trecho entre 6'30" e 9'.



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