segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sant´anna e os neo-sofistas da arte


O jornal O POVO publicou hoje uma interessante entrevista com o escritor e teórico Affonso Romano de Sant´anna, em que ele reivindica um novo olhar sobre a crítica e sobre a produção artística contemporânea, profundamente marcada, segundo ele, pela falta de princípios éticos e pela crença afetada no discurso daqueles a quem chama de neo-sofistas. Abaixo, dois trechos da entrevista.

"Existe em relação à arte contemporânea, de hoje em dia, uma desestabilização total. Ninguém mais sabe o que é arte. Não se pode fazer uma discussão sobre a arte, nem sobre ideologia em que nós estamos metidos, sem uma perspectiva epistemológica. A palavra é um pouco esquisita para muita gente. Epistemologia é um ramo da Filosofia que ensina as pessoas a questionarem o próprio conhecimento. Eu devo me perguntar simplesmente quando eu afirmo conhecer alguma coisa a partir de que perspectiva eu estou fazendo as minhas afirmativas. Para se estudar arte - na cultura chamada pós-moderna -, temos que entender uma série de pressupostos. Nesse livro e nessa palestra, eu toco na questão de paradigmas. Até o princípio do século XX, havia certas certezas, certos paradigmas. A partir da modernidade, da teoria da relatividade, do Einstein, do teatro do absurdo, de Beckett e Ionesco, a partir dos questionamentos de Nietzsche, depois Focault e Derrida, os paradigmas entraram em colapsos. Alguns artistas e muita0s pessoas, ao invés de analisarem essas mudanças de paradigma, mergulham nisso de cabeça e irracionalmente. Acabam decretando que não existem princípios, não existe verdade, não existe sistema. Qualquer coisa é arte. Isso é um dos grandes equívocos do século XX. Meu esforço, nesse livro e nos dois livros anteriores, Desconstruir Duchamp e A cegueira e o saber, é questionar uma série de práticas e teorias do século XX. Estou questionando o relativismo de Duchamp, de Roland Barthes, de Derrida, de Focault e de uma série de outros pensadores, que fizeram a cabeça da minha geração, a partir dos anos 70".

"A crítica está muito mal. Está perdida. O fenômeno artístico - ou que pretende ser fenômeno artístico - que é exposto nas bienais ou em muitas galerias é um produto que transcende o espaço da arte. Só pode ser bem compreendido através da Antropologia, da Psicanálise, da Linguística, da Sociologia, dos estudos de Marketing e, sobretudo, da Filosofia. Por exemplo, um dos itens fundamentais da Filosofia que tem tudo a ver com a arte de hoje se chama “o paradoxo do mentiroso”. É um tópico através do qual se tenta entender por meio da verdade e da mentira. Ou seja, quando um mentiroso fala a verdade, nós devemos acreditar nele ou ele está mentindo? Ou seja, o mentiroso joga um jogo habilidoso e confunde o sentido do certo e do errado. A arte contemporânea se rejubila de jogar com o falso e o verdadeiro, a cópia e o original, o original e a reprodução. Isso tem tudo a ver com uma questão não-estética, mas filosófica. Da mesma maneira, nesse livro, eu faço uma análise exaustiva do ponto de vista linguístico, analisando os textos de grandes críticos, como Octavio Paz, Roland Barthes, Derrida e outros. São pessoas que se apaixonaram tanto pela linguagem que acham que a linguagem substitui o real. Por isso, eu os considero sofistas contemporâneos. Sofistas acham que o conceito é que gera a realidade. Com efeito, a chamada arte do século XX se baseia, em grande parte, na arte conceitual. Onde o conceito é mais importante que a realização".

Um comentário:

Abre Catam disse...

Vai um japonês aí, Felipe?