segunda-feira, 13 de abril de 2009

Voragem

Segunda-feira em Fortaleza. Feriado para o Município. O sol pegou carona: chuva a manhã inteira. Mais ingrata que uma segunda-feira é uma segunda-feira que não se permite uma manhã de sol. "A folha branca é a tradução mais aproximada do nada", propunha Cabral de Melo Neto. Uma manhã chuvosa de segunda-feira é outra tradução possível. É o marco de uma realidade sem sentidos que volta a se impor. Abismo e queda. Declinando um ócio preguiçoso sobre o fastio dessa manhã, eu tento espiar de fora. E apelo novamente aos agrestes de Cabral: tanta lucidez dá vertigem, faz perder pé na realidade. Meio tonto, decido encarar a voragem. Chove chuva, chove sem parar. Que falta de sentido seria escutar um samba de Jorge Ben nessa segunda-feira. Nada mais dissonante aos tons monocórdicos de uma segunda-feira, chuvosa ainda por cima, do que o sol alentador do violão de Benjor.  Arquimedes às avessas, desejo encontrar não um ponto de apoio para mover a terra, mas algo que pegue essa segunda-feira em seu contrapé: parando o mundo e sua ciranda de inexistências. 

2 comentários:

Dante Accioly disse...

Mais ingrata que uma segunda-feira que não se permite uma manhã de sol é uma segunda-feira que não se permite uma manhã de sol longe de Fortaleza. Saudade da porra, meu amigo.

Vanessa disse...

Entrei pra fazer um comentário.
Antes resolvi ler o que o admirável Dante tinha dito: era tudo o que eu tinha a dizer....