terça-feira, 6 de julho de 2010

Por que voto em Dilma


Poderia votar em Marina Silva por admirar sua trajetória de vida, sua decência como figura pública e sua coragem de pautar novos horizontes - em especial, a urgência da questão ambiental - para o debate político/desenvolvimentista no País. Também poderia defender a plenos pulmões a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio, um dos maiores brasileiros vivos, homem que dignifica o campo da vida pública e da vida intelectual brasileira, que teve uma contribuição decisiva na luta pela reforma agrária e que segue em sua brava missão de propor um outro modelo de sociedade para o País.
No entanto, no debate eleitoral deste ano, o que está colocado não é a polarização entre Marina, Plínio e Dilma Roussef - os três expoentes do campo democrático e popular cujas candidaturas têm tecido social e pertinência intelectual para se legitimar perante a sociedade brasileira. Aliás, este seria um cenário dos sonhos para o Brasil: contar com um debate de ideias entre três nomes efetivamente compromissados com a transformação social, com o combate à pobreza e com o crescimento econômico do País. Seria... Mas ainda não é.
Não é porque que nessa ciranda, existe um outro candidato chamado José Serra, representante das elites preconceituosas, colonizadas e retrógradas de nosso País; candidato de uma grande imprensa amoral, golpista e cínica; símbolo da truculência e da priovatocracia tucana que levou o Brasil à lona e que agora quer retornar ao poder. José Serra, o avatar vampiresco de 500 anos de exclusão e autoritarismo que deixaram marcas profundas em nossa Nação - as quais, depois de oito anos de governo Lula, apenas começaram a ser exorcizadas.
Sei que é problemático um voto contra. Mais produtivo, sempre, é algo a favor. Nesse sentido, saúdo aqueles que entendem que a candidatura de Marina ou de Plínio podem representar o novo na política. Essas pessoas também ajudam a afirmar um novo país e são imprescindíveis para a política. Acredito, porém, que a volta do PSDB ao poder (possibilidade ainda não afastada pelas pesquisas de opinião) é um retrocesso não de oito anos - tão pouco tempo para que o campo popular e democrático se afirme no comando do País -, mas um retorno dramático ao Brasil vira-latas, servil no cenário internacional, injusto, excludente. O Brasil da casa grande e da senzala. Não é esse o País com que sonho. Não é essa a nação, aliás, que quero para meu filho, que, em breve, vai nascer. Quero que ele possa, em sua vida adulta, optar com tranquilidade por candidatos como Marina ou Plínio. Ou mesmo, quem sabe, Dilma. Essa última, por enquanto, é fundamental para que o Brasil siga seu caminho virtuoso dos últimos anos.
Nosso País ainda está vivendo uma transição difícil, traumática especialmente para a esquerda. Uma transição que, democrática, implica na indigesta negociação com setores conservadores da nossa política (onde, ressalte-se, o Governo Lula comete equívocos). Mas recuar das conquistas alcançadas, nesse momento, é pôr tudo a perder. Um retorno da direitona seria ainda mais cruel do que os oito anos da era FHC. Portanto, assumo que voto contra o PSDB - votando na candidata que tem melhores condições de embargar essa exumação dos mais terríveis ideais conservadores - para poder votar a favor do Brasil.
Entre a ética do idealismo e a ética da responsabilidade, ficarei com a segunda opção nessas eleições. Não é propriamente um voto no PT, que - embora seja o maior partido de massas da América Latina e ainda abrigue figuras e bandeiras notáveis - vem assumindo as feições do trabalhismo inglês e perdendo parte significativa de sua engrenagem social. Também não é um voto na candidata de Lula ou um voto indireto em Lula, líder brilhante que foi fundamental para essa transição pela qual o País passa, mas que, depois de oito anos no poder, pode deixar como contribuição deletéria à vida partidária brasileira o personalismo estéril.
Pessoal e intransferível, é um voto em Dilma, ou melhor, um voto contra Serra. Um voto, afinal, com o perdão do clichê, a favor do futuro do Brasil.

3 comentários:

Américo Souza disse...

Declaração lúcida e comprometida com uma postura ampla e domocrática do fazer político.

Anônimo disse...

Caro,
Votarei em Plínio, mas tenho de reconhecer a legitimidade e a sobriedade de seus argumentos. Plínio poderá representar um avanço em relação ao governo Lula. Mas Serra é um retrocesso que pode inviabilizar o futuro do nosso país.

Mateus disse...

Bons argumentos, Felipe. Gostei muito do texto que você escreveu, bastante lúcido. Mas uma pergunta que está rondando a minha cabeça faz tempo é até quando a gente vai votar contra e não votar em alguém. É esperar o tempo passar para ver.