Quando não o samba (que, em seu caso, as crises e supostas mortes já são rotineiras, bem como o seu renascimento), mas o próprio formato de canção é colocado na guilhotina (Chico Buarque, Tinhorão e Wisnik, por exemplo, já questionaram o lugar que a canção ocupa hoje em nossa cultura), eis que um disco areja e dá novas tintas à discussão. Balangandãs, disco-tributo de Ná Ozzetti a Carmem Miranda, revisita o repertório clássico de compositores igualmente canônicos, como Assis Valente, João de Barro, Synval Silva, Dorival Caymmi e Zequinha de Abreu, entre outros, com roupagem revigorada e delicada assinada por Dante Ozzetti e Mário Manga. A primeira pergunta ao se deparar com o disco é: qual o motivo de revisitar, mais uma vez, o repertório consagrado por Carmen Miranda? E depois: por que revisitar canções que, ao marcar época, ganharam inúmeras regravações e constituíram uma matriz importante do formato que ora se apresenta em crise? No disco, Ná Ozzetti, umas das intérpretes mais técnicas e afinadas de sua geração, responde tais questionamentos com uma altivez e uma leveza que impressionam: porque se é preciso tensionar e desconstruir a canção popular (expediente, aliás, brilhantemente percorrido pela geração paulistana a que Ozzetti se filia) para que se possa decantar seus procedimentos e compreender seu novo locus em nossa cultura, duas alternativas se colocam. A primeira é produzir um novo tipo de canção, que supere as limitações às quais o gênero se aprisiona hoje. A segunda é tentar desconstruir a própria base do modelo. E qual uma base em termos de canto feminino na música popular brasileira? Carmen Miranda, muito prazer.
Discão!
Abaixo, Ná Ozzetti em ação.
2 comentários:
O disco é fascinante. E sua análise, preciosa, caro amigo.
Acompanho a Ná Ozzetti desde os tempos do grupo Rumo. Pena que a grande mídia não dê atenção a esse tipo de (grande) artista. Sim, o disco é maravilhoso mesmo.
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