terça-feira, 7 de julho de 2009

CD traduz clássicos negros assinados por judeus


Um dos CDs mais importantes do ano será lançado no início de agosto e virá assinado por Carlos Rennó e Jaques Morelembaum. Trata-se de Nego, uma coletânea reunindo diversos artistas brasileiros (Seu Jorge, João Bosco, Maria Rita, Zélia Duncan, Gal Costa, entre outros) interpretando clássicos da música negra norte-americana escritos por compositores judeus e brancos (Gershwin, Irving Berlin, Richard Rodgers, Lorenz Hart, etc).
"A época dos anos 20 aos anos 40 foi um dos pontos mais altos da canção popular americana. Floresceram e se desenvolveram obras que ficarão para sempre na história das canções. E a maior parte do primeiro time de músicos era formada por judeus de origem simples, que descendiam de estrangeiros vindos da Europa", explica Rennó em entrevista à coluna de Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo. "No coração dessa explosão musical está a aliança negro-judaica, onde negros e judeus dos EUA se identificaram como povos exilados, outsiders. A música era uma via de emancipação. E aconteceu então uma identificação em que músicos judeus vão assimiliar a música e a musicalidade dos negros".
Segundo Rennó, esse encontro e essa identificação entre autores judeus e músicos negros foram determinantes para o erguimento das grandes obras da música popular americana. "Os que mais sofreram são os responsáveis principais pela alegria dos povos, se considerarmos que muito dessa alegria vem do consumo da música".
Uma das músicas escolhidas para o disco é "Strange Fruit", com que Billie Holliday costumava encerrar seus shows. A canção é uma bela e triste alegoria para o sentimento de horror de Abel Meeropol, autor da música, diante de uma das fotos mais chocantes do século XX - em que aparecem dois negros enforcados numa árvore, depois de terem sido linchados por um multidão em Indiana, no sul dos EUA (foto acima). "Eis uma fruta/ pra que o vento sugue/ pra que um corvo puxe/ Pra que a chuva enrugue/ pra que o sol resseque/ pra que o chão degluta./ Eis uma estranha/ E amarga fruta", diz a letra de Abel, que assinava como Lewis Allan, vertida para o português por Rennó e interpretada no disco por Seu Jorge.

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