Segundo especialistas, a recente crise econômica acentuou a incerteza no seio de uma geração que cresceu em um ambiente familiar de melhora continuada do nível de vida e que foi confrontada com a deterioração das condições de trabalho. "As vantagens de ser jovem numa sociedade mais rica e tecnológica, mais democrática e tolerante, contrastam com as dificuldades crescentes para se emancipar e desenvolver um projeto vital de futuro", assinala o jornal.
Para o historiador Elias Thomé Saliba, essa geração está cada vez mais vulnerável à devastação do mundo do trabalho, o que lhe faz reduzir os compromissos, flexibilizar os desejos e rejeitar simultaneamente o estudo e o trabalho. Em alentado artigo publicado na Carta Capital, Thomé resenha o livro A criação da juventude (foto ao lado), de Jon Savage, editado no Brasil pela Rocco. A partir da extensa pesquisa de Savage, Thomé discute como a juventude estaria deixando de ser o elo histórico entre o passado e o futuro das sociedades. "A juventude não é uma essência, mas uma invenção cultural; a juventude não é, ela se faz", defende.
Em Fortaleza, a geração "nem nem" costuma se reunir em eventos como o Fortal, que se encerrou no último domingo, arrastando para seu vórtice outras gerações, mais velhas, que cada vez mais se contaminam com esse hedonismo acéfalo, com esse mito de diversão juvenil, com essa promessa de falsa alegria extemporânea e alienada que é tão mais trágica quanto mais naturalizada. Daí a imensa dificuldade de se falar em cultura, em arte e em solidariedade por essas bandas. A juventude, que tinha vocação natural de catalisadora das mudanças sociais, vive hoje a história como tragédia. Ou como farsa, transformando seus ritos numa recorrente festa dos mortos.
Como alento, fica a crença de Elias Thomé segundo a qual, se a juventude foi historicamente inventada, ela pode muito bem reinventar-se. E trilhar novos e insuspeitos caminhos de invenção política e social. Não sei se compartilho dessa crença. Mas vejamos.
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