Há uns dois anos, não foram poucos os "especialistas", os "teóricos" e os oportunistas que caíram em cima de mim quando tentei apontar o problema ético que embalava a performance de certo "artista contemporâneo" de Fortaleza e que consistia numa pegadinha patrocinada com dinheiro público. E, pior, chancela de uma instituição pública. O pau cantou e, da chacota aos discursos cavos ou oportunistas, lidei com todo tipo de desagravo. Raros foram aqueles que compreenderam a matriz ética da "polêmica", que antecedia às dimensões artísticas e - vá lá - estéticas da questão.
Bom, em sua coluna desta semana no suplemento Mais!, da Folha de S. Paulo, o professor e articulista Jorge Coli escreveu um texto que pode ser muito produtivo se iluminar outras "polêmicas" no campo da arte contemporânea - a exemplo da pilantragem do famigerado japonês. Ao analisar a Bienal Internacional de São Paulo, Coli critica duramente a "obra" em que se transformou o segundo andar do prédio da mostra, deliberadamente deixado vazio pela organização do evento. E começa lembrando que, há 50 anos, Yves Klein (1928-1962) pintara de branco uma galeria em Paria para expor o vazio, "provocando filas de gente querendo entrar para ver o que não havia".
"A Bienal de São Paulo está vazia. Vazia. Sem floreios ou firulas: vazia, irremediavelmente vazia, pateticamente vazia. Vazia de obras, de idéias, de vergonha. (...) Não adianta vir com história de que essa Bienal causa 'polêmica', palavra hedionda porque reduz argumentos e debates a um espetáculo de circo. Não pode haver polêmica com alguma coisa que se situa entre o simplório e o safado", escreve.
E completa: "Se é para perturbar a seriedade sagrada dos lugares reservados às artes, uma sugestão: instalar a próxima bienal no Playcenter. Tanya Barson, da Tate Modern (Londres), que lamentou, na Folha, ter voado 14 horas para ver a Bienal do Vazio, poderia ao menos se divertir na montanha-russa, no chapéu mexicano".
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