quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Marquinhos de Oswaldo Cruz

Um pouco antes da nova geração do samba da Lapa começar a ganhar prestígio nacional - a reboque sobretudo dos êxitos de Teresa Cristina -, o portelense Marquinhos de Oswaldo Cruz já pontuava como um nome valoroso do gênero. Em 2000, ele estreava em disco com o consistente Uma Geografia Popular, chamando atenção tanto para seu trabalho como compositor quanto para a tradição de grandes sambistas localizada na latitude lírica entre Madureira e Oswaldo Cruz. Seis anos depois, Marquinhos voltou à carga com um grande disco: Memórias de minh'alma, que saiu pela Cumba Discos. Depois de muito pelejar em lojas de discos - reais e virtuais - finalmente consegui meu exemplar. Valeu cada dia da espera. Marquinhos é dos raros compositores que sabem usar a poesia - em seu caso acompanhada de uma riqueza melódica  e harmônica que faz lembrar os grandes mestres portelenses - para esgrimir contra a vida dura dos trabalhadores suburbanos numa metrópole como o Rio de Janeiro. "Os olhos não podem ver", belo samba que abre o disco, antecipa esse sentimento de lírica resistência que dá o tom de boa parte do CD: "Um velho banco, antiga estação / Vou sentindo o que os olhos não podem ver / Nesta marmita, eu carrego os meus versos / Que alimentam de emoção meu dia a dia".
Segue-se um feliz pout-pourri de composições de dois grandes portelenses - Candeia ("Zé Tambozeiro" e "Samba da Antiga") e Manacéa ("Carro de boi") - que desagua, na faixa seguinte, na emocionante "Portela Canta", um samba de terreiro de Marquinhos inspirado no desastre do desfile da Portela de 2005, em que a Velha Guarda foi impedida de desfilar na Sapucaí em função do inchaço da escola. Medida, aliás, que salvou a maior campeã do carnaval carioca de um vexatório e histórico rebaixamento. 
Nas mãos do compositor, a tragédia virou uma antológica apoteose e, sem exageros, entra para a história como uma dos mais belos sambas de quadra de todos os tempos. "Mas a Portela canta/ Vai nessa noite sem luar/ Sem alma na cuíca chora/ E com a voz do seu terreiro/ Ocupará o seu lugar", canta Marquinhos acompanhado por um coro de primeira:  Áurea Maria, Agrião, Ircéia, Tantinho da Mangueira, entre outros. 
Só essas faixas de abertura valeriam por todo o disco. Mas Memórias de Minh'alma ainda reserva quatro destacadas parcerias de Marquinhos com L.C. Máximo ("Pé de Moleque", "Na rua, a varanda", "Verde Bandeira", "Memórias") e um desfecho em grande estilo com a belíssima "Éramos reis", que maltrata o coração da gente na voz crucial de Virgínia Rodrigues.  
Abaixo, Marquinhos numa edição especial do programa Sarau, da Globo News, sobre o pagode do trem. Ao lado dele, Xangô da Mangueira e Monarco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marquinhos de Oswaldo Cruz é o cara. Tem uma letra do Candeia que ele musicou no outro disco dele. É uma fera. E ainda é portelense...

Anônimo disse...

Esse Chico Pinheiro é doido por samba. Mas tem que mandar ele ficar calado quando o povo cantar. Ele fica cantando junto, porra.