quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Um rio quarentão



Os primeiros registros fonográficos de Paulinho da Viola foram feitos entre os anos de 1965 e 1968, tanto com o show Rosa de Ouro, que também envolvia outros baluartes do samba, como Clementina de Jesus, Aracy Cortes e Hermínio Bello de Carvalho (na direção do espetáculo); quanto com seu trabalho no grupo A voz do morro, que reuniu uma pequena elite das escolas de samba cariocas da época (Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho, Anescarzinho do Salgueiro, José da Cruz e Elton Medeiros). Também em 1968, ele gravaria o disco Samba na Madrugada, em parceria com Elton Medeiros. Essas gravações formam a primeira parte da carreira de Paulinho, uma etapa em que o jovem sambista se consolidou na ala de compositores da Portela e, do "lado de lá" do Rebouças,  promoveu uma ponte entre a música tradicional dos subúrbios cariocas e a nova "MPB", já numa fase pós-bossa nova e que se consolidava nos festivais e nos discos.
Somente no fim de 68, Paulinho lançaria seu primeiro disco solo, um álbum que já trazia algumas obras-primas de sua lavra, como "Coisas do mundo, minha nega", "Sem ela eu não vou" e "A gente esquece"; mas que soa um pouco barroco, em função do excesso de orquestrações e salamaleques da produção musical. Apenas em Foi um rio que passou em minha vida (capa acima), lançado em 1970, há redondos quarenta anos portanto, Paulinho gravaria um LP solo que realmente começaria a soar como Paulinho da Viola. O mesmo (genial) Gaya do disco de dois anos antes dosou melhor as cordas e as redundâncias dos arranjos e as gravações passaram a soar mais leves, mais integradas à poesia e à musicalidade do compositor e à ginga do samba. Neste disco, Paulinho se afirma em definitivo como um grande compositor dentro da história da música brasileira, não apenas pelo clássico que deu nome ao disco, mas pelo conjunto impecável de composições reunidas no trabalho: "Para não contrariar você", "Estou marcado", "Mesmo sem alegria", "Jurar com lágrimas", a irônica "Papo furado" (com que Paulinho dá uma linda alfinetada nos alcaguetes da ditadura militar), "Não quero ver você assim" e a linda "Tudo se transformou".
Em 1970, a música "Foi um rio que passou em minha vida" foi cantada como samba de esquenta na concentração da Portela - que naquele ano chegaria ao título. Em 1998, a escola repetiu a dose e cantou o samba na concentração com a participação do próprio Paulinho nos vocais (link abaixo).



 

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