terça-feira, 21 de setembro de 2010

De tirar o sono

 

As Variações Goldberg, de Bach, ganharam importantes leituras ao longo do século XX. Do violoncelista brasileiro Antonio Menezes ao francês Yo Yo Ma, do russo Rostropovich ao violonista norte-americano John Williams, alguns gênios da música mundial já se debruçaram sobre a obra. Mas a versão mais famosa das peças - talvez pelo fato das Variações terem sido compostas para o cravo - é a do pianista canadense Glenn Gould (1932-1982), um virtuose cheio de esquisitices (entre elas, tocar sempre usando a mesma cadeira que havia ganho do pai ainda na infância) que assombrou o mundo ao gravar os 32 trechos da obra apenas aos 22 anos. Composta inicialmente para amenizar a insônia de um conde, as Variações Goldberg formam um conjunto de tirar o sono do intérprete que se arriscar entre seus labirintos, que levam ao extremo o dinamismo dos contrapontos de Bach.
Partindo de uma ária inicial, o intérprete tem que atravessar três dezenas de variações do mesmo tema, o que, longe de soar repetitivo é simplesmente surpreendente pela riqueza e criatividade impostas à melodia e ao acompanhamento. Há um impressionante rigor formal, mas também amplas possibilidades de liberdade criativa. Gould (foto acima) - que encerrou sua carreira como concertista aos 30 e poucos anos e voltou-se completamente para a carreira de estúdio - deixou quatro gravações da obra. Duas ao vivo, respectivamente de 1954 e 1959; e duas de estúdios: a de 1955, que lhe projetou para o sucesso mundial, e a de 1982, ano de sua morte. Esta segunda gravação em estúdio foi registrada em dois sistemas digitais, um da Sony e outro da Mitsubishi, com as mesmas especificações técnicas. Segundo a biografia do pianista, escrita por Otto Friedrich, tamanha era a acuidade auditiva de Glenn que os engenheiros de som ficaram assombrados quando o pianista ouvia as gravações e distinguia os sistemas com a maior facilidade.
No cinema, trechos das gravações de Gould podem ser ouvidos nos filmes O silêncio dos inocentes (1991) e Hannibal (2001).
Abaixo, Gould executando as variações de 1 a 7.


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