quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Baden e os afro-sambas


"Afro-samba" foi a expressão adotada por Vinícius e Baden Powell para definir o conjunto de canções gravados no antológico disco homônimo de 1966. O termo é um tanto redundante se atentarmos para o aspecto miscigenado que funda a música brasileira e, no caso específico do samba, para a enorme contribuição da cultura africana à tradição do batuque e do canto aqui estabelecidos. A rigor, qualquer samba traz um carga afro em seus genes. Mas naquele contexto de efervescência da bossa nova, no entanto, o termo adquiriu um novo sentido na medida em que sinalizou para outras latitudes de nossa música que não eram apenas o cenário de mar, amor e flor que podia ser divisado nos apartamentos de Copacabana e Ipanema. E mesmo a batida do violão não era mais a de João Gilberto, com seus baixos contínuos; mas um novo furacão de notas e timbres bem ao estilo de Baden.
Baden nunca gostou do registro de 1966 – cuja qualidade sonora foi definida por ele como a pior possível, resultado do número limitado de canais (apenas dois)  disponíveis para a gravação. Tanto que, em 1990, regravou os afro-sambas para um disco promocional oferecido por um banco a seus colaboradores. Apesar da importância do novo registro, o disco levou quase vinte anos para chegar ao grande público, o que só foi possível graças à iniciativa da Biscoito Fino, que reeditou o material há alguns anos em CD (capa acima). O disco encanta pela radicalidade com que Baden e seus violão retornam a temas como “Canto de Ossanha”, “Labareda” e “Canto de Xangô”. “Os afro-sambas se eternizam e se estendem para além  da vida de seus criadores”, sintetiza o crítico Pedro Alexandre Sanches.

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