Sem ironia barata, se me pedissem uma sugestão de leitura para este natal, diria Deus, um delírio, do britânico Richard Dawkins. Trata-se, nada mais nada menos, de um vigoroso ensaio contra Deus e, de forma mais ampla, contra a religião.
O ponto de partida é o conflito entre a visão darwiniana da evolução humana e a postura criacionista que ganha, em escalas cada vez maiores, um incômodo eco entre os neoconservadores cristãos mundo afora. A partir desse impasse, Dawkins investe contra o conceito de Deus recuperando posições de intelectuais de várias épocas e enfrentando dezenas de clichês e mitificações sobre o tema.
Em alguns trechos, ele descamba para um panfletarismo antirreligioso difícil de engolir. Os melhores momentos de seu ensaio, aliás, e também do restante de sua bibliografia, se definem pelo manejo lúcido dos conceitos darwinianos em diferentes áreas da vida contemporânea. No entanto, na maior parte de seus capítulos, o livro é o exercício honesto e brilhante de um intelectual contra uma mentalidade hegemônica que, engessada em dogmas, sistemas e crendices, tem alimentado e extremado a intolerância.
Concorde-se ou não com Dawkins, convencido ou não por ele, Deus, um delírio é um ótimo roteiro para aqueles que, pelo menos, queiram depurar sua espiritualidade à luz da ciência e da razão; e livrar suas inclinações religiosas dos apelos inconfessáveis da hipocrisia.
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