terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Universidade, pra que te quero?


A universidade pública agonizou no período FHC e quase foi sepultada com outras instituições da vida brasileira ao longo daqueles oito anos de triste memória. Em sua liturgia de desmonte do Estado, a cartilha neoliberal tucana deixou o ensino superior à míngua e atrelou de modo profundo o sentido secular das universidades à praxis do mercado. Na época, a reação dos setores de esquerda foi o bordão da defesa de uma "universidade pública, gratuita e de qualidade". Nada , no entanto, que superasse o pragmatismo míope que, no campo da educação, fazia confundir o ensino superior com uma pedagogia de caráter técnico e não raro desumanizador. 
Universidades não servem ao mercado. A rigor, uma universidade "serve" para pouca coisa se considerarmos a quantidade de ciência que vira tecnologia absorvida pela vida prática cotidiana. Ela é um reduto de saber, cujo sentido é o de tensionar e levar adiante a experiência humana nas diferentes áreas do conhecimento. Não tem, portanto, contas a acertar com o mercado e nem pode se preocupar com seus termos (do mercado) para se legitimar no seio de uma sociedade. Ela é fim em si mesmo e se realimenta de seus próprios méritos científicos.
Esse equívoco está na origem da crítica que se faz ao "encastelamento" dos acadêmicos em relação à vida cotidiana. Os acadêmicos não podem ser cobrados por não oferecer receitas mágicas de felicidade e distensão sempre que impasses de ordem técnica ou de pessoal se revelam no horizonte de grandes empresas e corporações. Seu compromisso é com a recuperação do conhecimento acumulado nos diversos setores da "vida real" e com a produção científica que desdobrará e enriquecerá esse conhecimento. 
"Universidade que não tem capacidade de produção científica nos diversos ramos do conhecimento não é universidade. Apenas toma o nome que alguém lhe deu eleitoreiramente e economicamente", aponta Aziz Ab'Saber em entrevista ao Le Monde Dilpomatique Brasil deste mês. "E essa é a maioria, infelizmente". 
Agora que o mundo assiste assombrado aos debates de Copenhague, a universidade pode, por via da pesquisa científica, produzir respostas para os desafios colocados pela questão climática planetária. Antes, no entanto, é necessário libertá-la dos limites conceituais da "consciência de mercado" que enforca os investimentos públicos e reforça a ditadura do crédito. O estrago dos anos FHC, porém, pode ter sido grande demais. Assim como o fortalecimento das estruturas estatais por parte do Governo Lula pode não ser o suficiente.

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