domingo, 6 de dezembro de 2009

Uma vez Flamengo, sempre... pontos corridos

Em 2003, quando da adoção do campeonato de pontos corridos no Brasil, engrossei as fileiras dos que se opunham ao formato. Achava que era um sistema enfadonho, um deslumbre boboca com o futebol europeu (embora ainda perceba, entre nossa "crônica", um deslumbre exacerbado e risível com os campeonatos do Velho Continente - onde se pratica, com exceção do campeonato inglês, o ludopédio mais chato do mundo!); e que o torcedor brasileiro estava acostumado com os jogos decisivos, que teriam feito a glória de nossos campeonatos. Em particular, incomodava-me o fato de que a partida final, com suas dezenas de milhares de torcedores lotando os estádios, ia ser abolida do nosso calendário, dando lugar a um sistema meio insípido, onde o campeão se revelaria com rodadas de antecedência e faria do restante da tabela um rito sonâmbulo e burocrático.  
Além disso, via o debate sobre o formato do campeonato embotar um debate maior, anterior, que é o da lisura e transparência política do nosso futebol, tema em que não avançamos. Com os primeiros campeonatos disputados a partir dessa nova fórmula, recuei um pouco nesse ponto de vista e passei a argumentar que, pontos corridos ou não, o importante era o Brasileirão ter um formato consolidado, que garantisse, digamos, uma "segurança jurídica" ao seu torcedor. Mais alguns anos e, admito, mudei de opinião - apenas em relação ao modo como o torneio é disputado. Os pontos corridos são, de fato, o melhor sistema para um torneio como o nosso campeonato. 
No que diz respeito à presença de público, por exemplo, em vez de uma final, este ano tivemos pelo menos umas vinte. Tanto na série A quanto na série B. Mesmo que um time desgarrasse na ponta da tabela, a disputa pelas vagas da Libertadores e a luta contra o rebaixamento (não falo da Sulamericana porque não me parece um campeonato relevante) garantiriam o frenesi dos estádios. Hoje, o Couto Pereira e o Engenhão receberam cerca de 40 mil torcedores cada um para os jogos decisivos (finais a seu modo) de Coritiba e Botafogo, que lutavam contra o rebaixamento. 
Confesso que torci contra o São Paulo não por ter nada contra o time paulista, mas por achar que o tetracampeonato seguido do Tricolor poderia fortalecer o argumentos dos que começam a se mobilizar pelo fim dos pontos corridos. Entre eles, a Globo Esportes, que cuida dos interesses da Vênus Platinada, e que, diante da queda de audiência do campeonato, tenta junto à CBF o retorno do sistema mata-mata. Seria um retrocesso impiedoso para o futebol brasileiro. Aliás, credito a queda na audiência do campeonato brasileiro não ao formato do campeonato, mas ao fortalecimento dos times regionais, que fraturam o antigo monopólio de Rio e São Paulo. Mas isso é tema para outro post...
A conquista do Flamengo chega em boa hora, sepultando o jejum rubro-negro, e arejando o espectro das conquistas dessa nova fase de nosso campeonato (Minas tem um título; o futebol paulista, cinco; e o carioca, um). O penta (sim, penta) do time da Gávea, que tem um elenco apenas mediano e um treinador cuja grande virtude é sua capacidade aglutinadora, também enfraquece o pedantismo de gente como Luxemburgo e Muricy Ramalho. 
Esse talvez tenha sido o golpe mais duro nos interesses de quem quer ver o mata-mata redivivo: a comemoração da maior torcida do Brasil em pleno campeonato de pontos corridos, onde supostamente prevaleceria a assepsia de conceitos como "planejamento" - bordão surrado nas penas dos cronistas de plantão. 
Nada é menos planejado e mais desorganizado do que o Flamengo, que devolveu ao futebol brasileiro o delírio delicioso da surpresa.  
Vida longa ao Mengão! Vida longa aos pontos corridos!

Um comentário:

Anônimo disse...

Mengão!!!! E dá-lhe, dá-lhe, Ô! Vai começar a festa!!!