quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Aquela marquinha...


Ai, aquela marquinha. Sublinha o sexo, acentua as curvas. Gravura de biquini, a quente, no sol. Na geografia do corpo feminino, ela envolve e realça as latitudes recônditas que embalam o nosso imaginário. Tatua desvãos de nádegas, seios e olhares.
Ai, aquela marquinha. O vestígio de um despudorado maiô de duas peças, renda corpo aberto no espaço. Negativo da lycra que descortina a mulher para o sol. Coração de eterno flerte, com a licença de Caetano. "A natureza ganhando terreno sugeriu o biquini. O maiô de pequeno ficando mais pequeno. Não se sabendo mais até onde um corpo branco pode ficar moreno", Millôr define e encerra o assunto.
Democrática, a marquinha serve a pobres e ricas, posto que o sol nasce para todas. Serve até a feias e bonitas, jovens e velhas, muitas vezes diminuindo as óbvias diferenças de generosidade divina. Numa praia de nudismo não há marquinhas, daí por que todos transitam com transcendente indiferença ao corpo feminino. Mas é só alguém deixar à mostra uma marquinha, por menor que seja, num burocrático escritório cheio de gravatas, vestidos longos e paletós, que logo a tensão se instala no ar.
Ai, aquela marquinha. É ela que preserva para a noite o mapa do calor do dia na pele da mulher amada. Caminhando com falsa displicência na rua, nas praças, no trabalho, é ela que desata no velho a saudade da juventude; e faz arrebatar no jovem o desejo da maturidade que ainda não chegou. Ninguém lhe é merecedor, afinal. A não-roupa, o não-toque. A marquinha é o início e o fim de nossos sonhos.
Ai, ai...

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