terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Elio Gaspari e o "andar de baixo"

O professor Claudio Salm, do Departamento de Economia da UFRJ, se debruçou sobre os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios referente ao período que vai de 1996 a 2008 para investigar a melhora de qualidade de vida do segmento mais pobre da população brasileira. No último fim de semana,  a conclusão de seu estudo foi tema da coluna de Elio Gaspari, que utiliza os números de Salm para tratar como "desonestidade"a propaganda lulista segundo a qual seu governo mudou radicalmente a "vida do andar de baixo nacional". De acordo com a coluna, que concentra sua análise nos números relativos aos domicílios com água encanada, acesso à rede de esgoto e acesso à luz elétrica, as PNADs mostram uma linha de crescimento contínuo em todo o período, sem alteração ou inflexão significativa no governo Lula. 
Os números da pesquisa de Claudio Salm são consistentes e não se pretende aqui questionar o mérito do trabalho do professor. Mas me soa como "desonestidade" deixar de fora da análise proposta pela coluna alguns números e informações que iluminam melhor o entendimento do País sob esse biombo das PNADs. Entre eles, o fato de que, nos últimos sete anos, o salário mínimo apresentou ganhos reais de 67%; a redução da dívida interna pública sem a venda de patrimônio nacional; e a grande geração de empregos formais, que tirou mais de 21 milhões de pessoas da pobreza no mesmo período. 
Em 2009, o "andar de baixo" (pelo menos não o brasileiro) não teve de pagar a fatura dos pilantras de Wall Street por conta do fortalecimento dos bancos públicos brasileiros, da facilitação do crédito por conta da alavancagem do financiamento público e da desoneração de setores fundamentais da economia. Tudo o que FHC não faria. Ou não fez em situações periféricas bem menos drásticas, quando se submeteu às exigências do FMI e "esgarçou nosso tecido social" (para usar uma expressão utilizada por Mercadante em artigo recente no Globo) com o aumento da pobreza e do desemprego. 
Em 2002, mais oito anos de FHC - que levou o País três vezes à bancarrota - transformariam o Brasil em pó. Sete anos de Lula reverteram um prognóstico tenebroso e colocaram o País num novo ciclo de desenvolvimento com uma atenção à área social nunca vista em nossa história. Seria "desonestidade" não ressaltar que o Brasil ainda convive com problemas crônicos, mantidos em grande escala pela inércio e pelas trapalhadas do Governo Lula em diversos setores. Mas não seria "desonestidade" maior do que o pretenso nivelamento dos dois últimos governos no que diz respeito à melhora da qualidade de vida dos setores mais pobres de nossa população. 

P.S. - A foto reproduzida acima é de um anúncio do instituto Akatu premiado em Cannes. 

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