Tarantino é um esteta da violência e, do ponto de vista estritamente narrativo, um cultor dos roteiros virtuosos. Tanto que seus personagens costumam se revelar apenas em pequenas frestas do argumento e dos diálogos (em geral, verborrágicos e, quase sempre, sem propósitos). Ficam na contraluz do fluxo do enredo e de suas reviravoltas. Cinismo e ironia, em seus filmes, são palavras-chave. E também superficialidade. Já que a trama é colocada em primeiro plano, há muito poucos matizes, o drama humano é sempre caricato e breve. Tarantino tem uma notável habilidade para contar histórias e usar a violência como elemento cênico que media a relação dos personagens. No entanto, à medida que se sucedem suas obras - como reafirma o seu recente Bastardos Inglórios -, percebe-se que a violência é um biombo sob o qual se esconde um diretor de pequena extensão simbólica e de pequeno alcance psicológico. Qual a brutalidade do "bastardo" Brad Pitt, que costuma marcar a testa de seus perseguidos no filme, a violência de Tarantino está na superfície. Ainda bem. Qualquer outra pretensão poderia lhe tornar um diretor pernóstico e obtuso. Por enquanto, ele ainda vale nossos níqueis.
Um comentário:
Hola, Felipe. Discordo de vc. Pra mim, a violência em Tarantino (de Cães de Aluguel a Bastardos Inglórios) segue o tom de distensão ao extremo (com muita ironia e em ritmo de paródia do que é considerado "lixo cultural", como os filmes B) que acaba servindo à problematização da imagem "violenta". Sim, Tarantino é extremamente superficial --e cinema não é exatamente isso, superfície? Como diria Zumthor, assistir a um filme do Tarantino é surpreender-se, "na ação das próprias vísceras e ritmos sanguíneos", com o que em nós o contato fílmico põe em balanço. E ele faz isso muito melhor que diretores-cascata como um Lars von Trier da vida. E com muito menos violência [moral, com afronta ética], diga-se de passagem. ;)
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