segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A arte do improviso


O jeito esquisito ao piano é resultado, em parte, das dificuldades vividas ainda nos primeiros estudos: a pequena estatura e as mãos pequenas faziam com que Keith, então com pouco mais de três anos, tivesse de se levantar do banco para alcançar as notas mais agudas e as mais graves do teclado. Mas foi a paixão intensa pela música e, em particular, pela arte do improviso que levou esse gênio não apenas a tocar de modo muito particular - em geral, se contorcendo à frente das teclas e solfejando as notas com grunhidos que costumam afastar os ouvintes desavisados - mas a se transformar num dos maiores nomes da música da segunda metade do século XX.
Art of Improvisation, um documentário fascinante de Mike Dibb produzido em 2005 e que apenas este ano foi lançado no Brasil pela Euro Arts, percorre a trajetória de Keith Jarrett investigando as idiossincrasias e a trajetória desse artista que é uma das grandes estrelas do jazz e da música erudita. Compositor e instrumentista virtuoso, o norte-americano personifica ao mesmo tempo o rigor da disciplina acadêmica e um desejo permanente de exploração musical guiado pela liberdade da estrutura jazzística. Em suas mãos, as composições eruditas ganham novos contornos e uma vitalidade rara através do repertório virtuoso da técnica de Jarrett. E o improviso ganha status de composição pronta, que, porém, nunca chegará a ganhar a eternidade das partituras pela natureza efêmera de seu processo de "escrita". 
"Nunca houve um tempo em que a improvisação tenha ganho o respeito devido. Pela virtude de seu espírito holístico, ela necessita de tudo para se concretizar. Ela demanda tempo real, nenhuma edição é possível. Isso leva seu sistema nervoso a estar alerta para todas as possibilidades de um jeito que não pode ser descrito por nenhum outro tipo de música", ele explica no filme. 

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