quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A luta passageira dos apáticos

"Uma das figuras mais originais e características da nossa era é a do revolucionário profissional, como foi definida pelos bolchevistas no começo do século. O militante inteiramente consagrado à atividade política, materialmente sustentado por uma organização partidária, a que em princípio deve dar adesão completa, obediência sem reservas, todo o seu pensamento e a sua ação, não devendo, como um clérigo, ter outro compromisso. A esses homens, formados segundo a mentalidade exclusivista das seitas, o nosso tempo deve algumas das realizações mais espantosas, tanto as redentoras quanto as atrozes. 
Mas é também interessante o tipo oposto, do homem sem qualquer compromisso com a revolução, que frequentemente é até contra ela, e no entanto nalgum período ou apenas nalgum instante da vida fez alguma coisa por ela: uma palavra, um ato, um artigo, uma contribuição, uma assinatura, o auxílio a um perseguido. Se fosse possível computar esses fatos ocasionais, essas atividades temporárias, talvez resultasse um total imenso de forças. Por isso, é atraente investigar os atos discordantes dos conformistas, os atos radicais dos conservadores, os períodos de lucidez revoltosa dos desinteressados, as lutas passageiras dos apáticos". 

Antonio Candido, em "Radicais de Ocasião" (ensaio incluído no volume Teresina Etc, da editora Ouro sobre Azul)

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