Pimenteira, segundo disco solo do carioca Pedro Miranda, está saindo do forno. Ao mesmo tempo em que chegava às lojas, o CD era citado em alguns jornalões não propriamente pelo belo trabalho que é, mas pela bênção de Caetano Veloso ao novo álbum desse enfant terrible da Lapa. Entre outras palavras, o baiano disse que há muito tempo não escutava um disco com tanto entusiasmo.
"Eu sempre sou citado como elogiador fácil de moças jovens bonitas que cantam samba. Nunca as elogiei sem que achasse justo fazê-lo. Dizer aqui que o CD de um marmanjo, que nem tipo gatinho é, é algo muito mais importante do que o que essas ninfas têm, em conjunto, alcançado deve dar uma ideia do quanto considero ‘Pimenteira’ um evento especial em nossa música. E, de quebra, pode dar mais credibilidade aos elogios que faço às moças", diz Caetano, que classifica o CD como um trabalho de "força histórica intensa".
Noves fora a afetação de Caetano, essa é de fato uma boa chave para se entender a força do disco. Sucessor de Coisa com Coisa (20o6), o ótimo trabalho de estréia de Pedro, Pimenteira reafirma uma estética que, em escalas e competências diferentes, tem embalado o trabalho dessa (já não tão) nova geração de sambistas que fizeram da Lapa o epicentro de um discurso musical que contagiou outras latitudes do País e transbordou para outros gêneros. Trata-se de um olhar apaixonado e curioso para a tradição, que dispensa o tom solene em relação ao passado e vê nos grandes sambistas, não os sacerdotes de uma liturgia inabalável e engessada, mas uma fonte atemporal da alegria que é cantar samba.
Cantar e compor, aliás. Além das peças nada óbvias de Nelson Cavaquinho ("Velhice"), Roque Ferreira (autor da faixa título do CD), Wilson das Neves ("Imagem"), Nei Lopes ("Compadre Bento"), Paulo César Pinheiro ("Baticum") e Elton Medeiros ("Na cara do gol"), que o próprio Pedro pesquisou e reuniu para o disco, Pimenteira é temperado por composições de jovens autores como Edu Krieger ("Coluna Social"), Alfredo Del Penho ("Caso encerrado"), Rubinho Jacobina (autor da impagável "Meio-tom") e Moyseis Marques ("Cartas de metrô"), que respondem pelo extrato atualíssimo do disco.
Some-se ao repertório primoroso (cuja escolha em si constitui um ato autoral) a produção primorosa de Luis Filipe de Lima e é possível entender o discurso proposto por Pedro: um disco que recorre a procedimentos tradicionais (aqui retrabalhados e reprocessados em novos timbres e arranjos) para olhar para o futuro, celebrando sem neuras a alegria do bom samba. Nada mais moderno, portanto. Tradição, presente e futuro. Tudo desaguando na voz afinadíssima e cheia de suingue de Pedrinho Miranda. Sem manias de passado nem frescuras de modernidade. Um disco de altíssimo astral e de inegável "força histórica".
P.S. - Ano passado, Pedrinho esteve em Fortaleza cantando com o Policarpo e a Estrela de Madureira. Segue abaixo o link.
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