segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ataulfo Alves, 100 anos

Além de intérprete bem-sucedido da própria obra, caso raro entre os sambistas, Ataulfo Alves compunha num andamento singular, diferente, numa cadência mais "ralentada" sem, no entanto, encostar no samba-canção, como lembra Tárik de Souza. Esse passo mais vagaroso, mais elegante, permitiu que  sua obra se tornasse itinerário para músicos de outros gêneros, que descobriram em seus sambas uma paisagem pós-gafieira, de tons jazzísticos (sem, no entanto, encostar na bossa-nova), permanentemente aberta a novas abordagens. 
Itamar Assumpção, por exemplo, dedicou um de seus melhores discos a releituras moderníssimas da obra de Ataulfo. Agora, é o produtor Thiago Marques Luiz quem revira o baú de Ataulfo para celebrar seu centenário. Depois de seis meses de trabalho, ele reuniu um elenco brilhante de intérpretes para percorrer parte da obra deste compositor mineiro em dois CDs lançados simultaneamente: o primeiro reunindo artistas consagrados em diversas épocas e estilos; o segundo, apresentando a força e o vigor de novos nomes que se lançam na cena do samba e alhures. 
Nos discos, coube tudo em termos de gêneros. Da valsa ("Meus tempos de infância", com Ná Ozzetti) ao funk ("Na cadência do samba", com Elza Soares). Do bolero ("Errei sim", com Fafá Belém) à balada lírica ("Infidelidade", com o canto emocionante de Alaíde Costa e o piano exuberante de André Mehmari). Da gafieira ("Mulata Assanhada", com Elba Ramalho) ao reggae ("Desaforo eu não carrego", com o impagável Língua de Trapo). Tudo, porém, elegante e suingado, soando vigorosamente como samba. Ou melhor, como um samba de Ataulfo Alves. 
Abaixo, Ataulfo em um raro registro de 1967. 

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