Passada essa primeira década do século XXI, é possível dizer que, em proporções mais tímidas, mas não menos relevantes, o estilo das escolas de samba também passa por um estilhaçar de sua estrutura que está transformando e ampliando o gênero do samba de enredo. Esse processo é visível no novo entrelaçamento de seus compassos, na nova (e a cada ano mais criativa) relação entre as vozes e timbres percussivos que constituem seu tecido sonoro.
Nisso reside, ressalte-se, um paradoxo, já que a estrutura de composição está cada vez mais engessada e previsível, baseada nos famigerados refrões (sempre dois) e estrofes (sempre duas). Mas escutando o disco de sambas de enredo do grupo especial do carnaval de 2010, por exemplo, é possível perceber como as baterias nunca soaram tão audaciosas, nunca transbordaram tanto para além dos limites binários do samba. Diálogos de surdos, chamadas ralentadas de repiniques, desenhos de tamborins que soam como arpejos virtuosos, colorações extraordinárias de chocalhos: os recursos utilizados pelos mestres de bateria em suas bossas e na própria construção do ritmo são hoje de tal complexidade e engenhosidade que fazem do samba de enredo a expressão rítmica mais inteligente do País.
Há letras interessantes (como os sambas da Beija Flor, Vila Isabel e Imperatriz), que de forma competente embalam o exuberante cortejo de painéis que é o desfile da Sapucaí, uma ópera tupiniquim de gramática própria e também cada vez mais engenhosa. Há também textos pífios - a maioria, infelizmente. Mas a orquestração das baterias se sobressai a tais redundâncias e platitudes - embora o tão prometido disco gravado ao vivo tenha recebido acabamento de disco de estúdio, com uma edição criminosa de algumas faixas.
O melhor das baterias segue nos ensaios de quadra, nas verdadeiras gravações ao vivo e, claro, no desfile de fevereiro. Vida longa a nossos Schoenbergs mominos!
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