segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Céu na Terra


Logo nas primeiras canções é possível notar que Céu é uma cantora com uma rara peculiaridade: sua voz é ainda melhor ao vivo do que em estúdio. Em geral, a experiência da audição ao vivo de um intérprete é sempre mais intensa do que a audição do registro fonográfico. No caso de Céu, no entanto, sua performance amplia seu horizonte e sua extensão vocal, ressalta seu canto apurado, uma intrigante mistura de referências que vão dos vocais poderosos das divas do soul à divisão apurada de algumas sambistas. Aqueles que, como eu, sugestionados pela audição de seus dois discos, esperava ouvir os falsetes aveludados e a delicada malemolência de sua voz, se surpreendeu com uma cantora ainda maior no palco do Centro de Convenções no último sábado. 
Em vez de alguém cantando ao nosso ouvido, o que se viu foi uma artista de rara espontaneidade, dona de uma voz e de uma mise-en-scéne que transborda sua estampa angelical. Samba, reggae, jazz, o que vier ela traça. Céu canta com tal domínio de seus recursos e com tal segurança de seus gestos que o público inexoravelmente se rende a seus apelos, mesmo que eles venham embalados por um figurino meio confuso, opaco, pouco cativante; ou de passos (deliciosa e elegantemente) desengoçados, sobre os quais ela saracoteia por todo o palco  - uma mistura de reggae e samba que é simplesmente irresistível. Ah, sim, e a banda que lhe acompanha é muito, muito boa. Mas, creia-me, os músicos são a última coisa em que você vai reparar no show.

Abaixo, um trecho do show em Fortaleza no último sábado.

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