quarta-feira, 11 de março de 2009

Derivativo na planilha dos outros é refresco


Você sabe o que é derivativo de câmbio? Não?! Tudo bem. Até meados do ano passado, executivos graúdos de grandes empresas - e muita gente da imprensa - também não. E tanto não sabiam que levaram um tremendo tombo quando, em setembro, estourou a crise financeira mundial, fazendo o dólar disparar e levando junto a dívida contraída por empresas como Sadia, Votorantim, Aracruz e outros pesos-pesados. Os derivativos cambiais, até então usados como proteção dos exportadores contra as oscilações bruscas do dólar, virou febre entre os bancos brasileiros e passou a ser oferecido - como sói acontecer antes das crises - sem a devida regulamentação no mercado. A idéia era usar os derivativos como uma ferramenta para diminuir os juros pagos nos empréstimos bancários: com uma cotação baixa do dólar, os juros seriam inferiores aos de mercado; mas caso o dólar subisse, o débito subiria junto. O problema foi que os especialistas nunca imaginaram esse último cenário; até estourar a bolha imobiliária norte-americana e, com ela, a saúde financeira de muitas corporações.
Matéria publicada no Estado de S. Paulo do último fim de semana mostra como as empresas não tinham a dimensão do grau de exposição à dívida. Segundo levantamento reservado do Banco Central, as empresas brasileiras perderam a bagatela de US$ 30 bilhões na roleta dos derivativos. O estrago foi tamanho que muitas delas estão recorrendo à Justiça para não pagar o imenso papagaio contraído nos bancos. Os argumentos utilizados são os de que quem perdeu não sabia exatamente os riscos que corria, ou de que o funcionário que assinou os contratos não tinha poder para tal, ou ainda que é questionável a falta de limites para as perdas - já que, contratualmente, vejam só, há limites para os ganhos.
No noticiário econômico, nenhum veículo tratou essa tentativa de "auditoria" judicial da dívida das empresas como tentativa de "calote", como costuma fazer praticamente toda a imprensa sempre que a dívida pública brasileira é colocada em questão. Ano após ano, nosso endividamento público - que se acentuou no período FHC como forma de reduzir a intervenção do Estado na economia e fazer o País "conquistar a confiança dos mercados" - tem absorvido a maior parte dos recursos orçamentários da União e estrangulado estados e municípios. Em 2008, o pagamento de compromissos com a dívida chegou a 46,5% de todos os gastos federais. Até hoje, no entanto, a despeito dos esforços de movimentos como o da "Auditoria Cidadã da Dívida", nenhuma auditoria - que permitisse esclarecer qual a contrapartida e quais os principais beneficiários da nossa dívida pública - foi realizada. E o pior: sempre que se quer trazer esse debate à tona, a maior parte da imprensa trata a questão, decisiva para a soberania nacional, à luz do mito cínico e dissimulado do "calote".

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