O jeito esquisito ao piano é resultado, em parte, das dificuldades vividas ainda nos primeiros estudos: a pequena estatura e as mãos pequenas faziam com que Keith, então com pouco mais de três anos, tivesse de se levantar do banco para alcançar as notas mais agudas e as mais graves do teclado. Mas foi a paixão intensa pela música e, em particular, pela arte do improviso que levou esse gênio não apenas a tocar de modo muito particular - em geral, se contorcendo à frente das teclas e solfejando as notas com grunhidos que costumam afastar os ouvintes desavisados - mas a se transformar num dos maiores nomes da música da segunda metade do século XX.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
A arte do improviso
O jeito esquisito ao piano é resultado, em parte, das dificuldades vividas ainda nos primeiros estudos: a pequena estatura e as mãos pequenas faziam com que Keith, então com pouco mais de três anos, tivesse de se levantar do banco para alcançar as notas mais agudas e as mais graves do teclado. Mas foi a paixão intensa pela música e, em particular, pela arte do improviso que levou esse gênio não apenas a tocar de modo muito particular - em geral, se contorcendo à frente das teclas e solfejando as notas com grunhidos que costumam afastar os ouvintes desavisados - mas a se transformar num dos maiores nomes da música da segunda metade do século XX.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Os justos
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sur jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acaricia um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão salvando o mundo."
Jorge Luis Borges, Os justos
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Schoenberg monino
A luta passageira dos apáticos
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Encaixotando Jorge
Agora é que o superavit lá de casa vai pro saco: Salve Jorge!, caixa com os 13 primeiros discos de Benjor (todos lançados pela Philips entre 1963 e 1976) chega às gôndolas em dezembro. Durante muito tempo, títulos como Solta o pavão (1975), Forca bruta (1970) e Negro é lindo (1971) estiveram fora de catálogo e ajudaram a criar a mística em torno do Zé Pretinho - que soava tão mais genial quanto mais obscuras eram suas gravações. Pois bem, esses discos estão chegando novamente ao mercado no formato de CD, junto com clássicos absolutos como Tábua de Esmeraldas (o melhor de todos eles), África Brasil e Gil Jorge; e revelam a melhor fase da discografia de Jorge Ben. Destaque também para o disco com gravações raras e inéditas disponibilizado pela Universal na caixa.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Ataulfo Alves, 100 anos
domingo, 22 de novembro de 2009
Um novo ciclo
Há exatos dez anos, no fim da temporada de 1999, o então presidente do Ceará Sporting Club, Átila Bezerra, participava de uma mesa redonda dominical numa emissora local de TV e avaliava as perspectivas do clube para o ano seguinte. O Ceará acabara de ser tetracampeão estadual; batera na trave na disputa por uma vaga na primeira divisão do Campeonato Brasileiro – perdendo a vaga para o Goiás –; via seus rivais locais afundados em graves crises financeiras; e estava na iminência de fechar uma parceria com o banco Icatu Hartford, que prometia reinventar o modelo de gestão esportiva no futebol cearense a partir da profissionalização dos quadros da administração alvinegra. Para 2000, anunciou o mandatário, o (segundo) pentacampeonato estadual estava garantido e a sonhada vaga na elite do futebol brasileiro era apenas uma questão de tempo em função dos novos ares em Porangabuçu.
Mesmo o mais desconfiado dos alvinegros não poderia imaginar quão infelizes seriam aquelas declarações. A partir de 2000, a era de aquarius para o Ceará virou uma quadra de tristeza e frustrações. O calendário alvinegro passou a ser pautado pelas disputas fratricidas entre seus dirigentes, pela demagogia e pela incompetência administrativa de seus gestores, pela obtusidade e pelo cinismo de setores da imprensa comprometidos com interesses inconfessáveis dentro do clube e, por tabela, pela impaciência da torcida. Com isso, os anos 00 foram uma das piores décadas da história alvinegra: a fogueira de vaidades em que ardia o ego dos tragicômicos “cardeais alvinegros” inviabilizou a parceria com o banco e legou uma herança maldita que durante anos assombrou as contas de Porangabuçu, o clube viu seu principal rival renascer das cinzas, conquistou apenas dois campeonatos cearenses (embora o campeonato de 2004 não tenha sido decidido dentro de campo por conta de uma constrangedora armação da FCF) e balançou por diversas vezes na corda da bamba que dava para o abismo da terceirona.
Ontem, o Ceará chegou por seus méritos (sem precisar ser guinchado de divisões inferiores, ressalte-se) à elite do futebol brasileiro. Uma campanha que emocionou a maior (e mais fiel) torcida do Estado e arrancou elogios mesmo dos comentaristas mais sisudos. Dentro de campo, o time de PC Gusmão soube combinar o pragmatismo tático com a garra exigida pelas arquibancadas. Não houve futebol vistoso, mas houve futebol compromissado. Nenhum novo Zé Eduardo despontou, mas bons jogadores (Mota, Geraldo, Michel, Boiadeiro, Erivelton, Misael, Fábio Vidal e outros) vestiram com muita dignidade a camisa alvinegra e suaram lágrimas junto com a massa.
Fora de campo, a gestão de Evandro Leitão abraçou com seriedade e competência o desafio de comandar a maior paixão esportiva do Estado, implementando novas práticas gerenciais e reerguendo a auto-estima do torcedor alvinegro. Dez anos depois da famigerada barrigada do então presidente alvinegro, que deu início a um ciclo a ser esquecido pelos alvinegros, Evandro tem a oportunidade de novamente olhar para o futuro anunciando uma nova era para o Vozão. Um novo ciclo marcado não pela presunção vazia ou pela vaidade inútil; mas pela seriedade no trato com o patrimônio alvinegro. Um novo tempo marcado não apenas pelo desafio de montar times vencedores, mas pela missão de fazer do Ceará um grande clube.
É o que deseja o torcedor alvinegro, que hoje vai dormir bêbado de alegria, comemorando o tão sonhado acesso de nosso time querido. Mas que amanhã vai acordar com o desafio da primeira divisão pela frente.
Parabéns, Vozão!
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
A pimenteira de Pedro Miranda
Pimenteira, segundo disco solo do carioca Pedro Miranda, está saindo do forno. Ao mesmo tempo em que chegava às lojas, o CD era citado em alguns jornalões não propriamente pelo belo trabalho que é, mas pela bênção de Caetano Veloso ao novo álbum desse enfant terrible da Lapa. Entre outras palavras, o baiano disse que há muito tempo não escutava um disco com tanto entusiasmo.
Soldado da memória
Quase uma metonímia. A série Songbook, criada por Almir Chediak no final dos anos 80, passou a denominar um tipo de produto cultural que até então era uma raridade no País. Corriqueiro no exterior, o esforço editorial de reunir partituras de um determinado compositor popular - transcrevendo a letra e a melodia e cifrando a harmonia exatamente do modo como foram criadas - só vingou efetivamente no Brasil depois que o produtor carioca lançou os primeiros livros do gênero pela editora Lumiar, de sua propriedade.
Assim foi que os ''songbooks da Lumiar'' - ou os ''songbooks do Chediak'' - viraram uma espécie de bombril didático-musical entre nossos instrumentistas. Outros editores também lançaram os seus, mas ninguém conseguiu fugir da sombra da produção meticulosa e perfeccionista de Chediak, que acabou consagrando seus livros (e posteriormente os CDs vinculados a eles) tanto por conta do método adotado, que preservava todos os detalhes criativos dos compositores, quanto pelos nomes que conseguiu editar.
Primeiro foi Caetano Veloso, que teve a obra mapeada e transcrita em dois volumes lançados em 1988. Na época, qualquer pessoa que já tocava violão ou apenas se iniciava no instrumento, ficava babando ao descobrir um acorde novo ou uma passagem harmônica mais elaborada que se escondiam nas ''entrelinhas'' de uma composição do músico baiano. Quase como um anti-feiticeiro da linguagem musical, Chediak revelou esses truques e os colocou à disposição de estudantes, professores e músicos diletantes que até então eram um tanto órfãos de publicações do gênero.
''Nos Estados Unidos e na Inglaterra, por exemplo, um songbook de Cole Porter ou George Gershwin contém partituras que perpetuam nota por nota, palavra por palavra, o que cada um deles criou. Aqui, a prática corrente é a de não se respeitar a música popular do mesmo modo que se respeita a erudita'', afirmava o jornalista João Máximo na introdução de um dos volumes dedicados a Caetano. ''Chediak e sua editora ousam acreditar que a boa música popular do Brasil merece o mesmo destino de toda obra-prima: perpetuar-se''.
Nesse sentido, Chediak tornou-se um raro guardião de parte da memória musical brasileira. Imagem que se somou a de autor de obras referenciais no ensino de música, especialmente Dicionário de acordes cifrados, que iniciou o processo de padronização das cifras no Brasil; e os dois volumes de Harmonia e improvisação, primeiro livro editado no País sobre técnica de improvisação e harmonia funcional (com aplicação em mais de 140 músicas populares). Mas se esses livros são obrigatórios em qualquer boa biblioteca de teoria musical, Chediak se consagrou mesmo com os seus Songbooks.
''A idéia nasceu exatamente na casa de Caetano Veloso. Eu estava dando aula de violão a seu filho Moreno, quando comecei a pensar no quanto seria importante para professores, músicos, arranjadores e estudantes se tivéssemos as obras de nossos compositores catalogadas em um álbum do modo como foram criadas por eles, o que raramente acontece nas edições musicais, principalmente no que se refere às harmonias, fundamentais na medida em que grande parte de nossos compositores é de excelentes harmonizadores, músicos que sabem exatamente os acordes com que melhor vestem suas melodias'', ele explicava.
Depois de Caetano, foram mais de vinte outros livros editados (a maioria com CDs correspondentes), contemplando nomes como Chico Buarque, Edu Lobo, Braguinha, Noel Rosa, Carlos Lyra, Dorival Caymmi, João Donato (foto acima), Djavan, Francis Hime, Rita Lee, Gilberto Gil, entre outros medalhões. O último trabalho foi o livro (e uma caixa com três CDs) de canções de João Bosco, presença constante em quase todos os discos produzidos por Chediak.
''Eu participei em todos (os CDs da série Songbook), em alguns até com mais de uma música. É um trabalho importantíssimo. Os discos funcionavam como uma usina de experimentação, com muitas releituras feitas com total liberdade. E os livros eram feitos com muito cuidado, das cifras às entrevistas e biografias de cada artista'', João declarou ao saber da morte terrível de Chediak. ''Estou chocado, não sabemos o que houve, só que essa pessoa cheia de vida não está mais aqui''. O produtor musical foi assassinado brutalmente em maio de 2003, com quatro tiros no rosto, em Petrópolis.
Nascido no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1950, Chediak começou seus estudos com uma das grandes lendas da música popular brasileira, o mestre Herondino Silva, o mitológico Dino Sete Cordas. Aos 17 anos, já dava aulas e aprimorava seus conhecimentos com o professor Ian Guest. Entre os alunos que passaram pelas aulas de Almir estavam nomes famosos, como Gal Costa, Moraes Moreira, Carlos Lyra, Tim Maia, Ed Motta e Cazuza, que se revezaram pelo seu Centro Musical instalado em Copacabana.
Com sua morte, a MPB perdeu o autor de um trabalho que Tom Jobim definia como ''coisa patriótica''. Mais: perdeu um soldado insubstituível na guerrilha cultural travada entre a nossa música e a vertigem cretina das grandes gravadoras.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
O dom e a dor
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
O biombo da violência
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Elifas Andreato
terça-feira, 3 de novembro de 2009
O barquinho mudou a rota
Chega de saudade! O barquinho mudou sua rota. Manteve a bússola da bossa nova de Jobim, mas, em vez do macio azul do mar, fez de sua carta náutica uma aquarela étnica e percorreu o mares bravios e intensos de suas raízes negras. Do samba ao west-coast, do candomblé ao hard-bop: axé Coltrane, axé Gerry Mulligan! Wes Montogomery pede a bênção a Pixinguinha e Silas de Oliveira. Água no pote de Oxalá e música na alma do mudo inteiro!