Há discos que, mais que sintetizar, podem justificar todo um gênero musical. É o caso de Amoroso, de João Gilberto, em relação à bossa nova; Kind of Blue e A love supreme, em relação ao jazz; Primas e bordões, no caso do chorinho; e de Sgt. Peppers, no que diz respeito ao rock. Vale lembrar ainda a presença de Blonde on blonde, no terreno do folk rock; e da importância de Catch a Fire na história do reggae. No caso do samba, esse disco-síntese, ponto de partida e de chegada para ouvintes, músicos e produtores de determinado gênero, é Portela, passado de glória, primeiro álbum da Velha Guarda da Portela, produzido por Paulinho da Viola e lançado em 1970. O disco, que apresentava pela primeira sambas antológicos como "Quantas lágrimas", "Desengano" e "Sofrimento de quem ama", acaba de ganhar uma nova edição em CD, com uma nova apresentação escrita por Paulinho e com acabamento à altura de sua importância - já que a edição de 1997 era um insulto.
"Com um precioso acervo de sambas, um ritmo inconfundível, inúmeros discos, livros, especiais de televisão, um belo documentário, vários shows fora do Brasil e perto de completar 40 anos, a Velha Guarda da Portela se mantém atuante, reunindo velhos e novos sambistas para nos encantar com suas estórias, ou mesmo 'para a mocidade brincar', como queria Chico Santana. Apesar das dificuldades técnicas, do reduzido número de pessoas na produção (no estúdio apenas eu e o técnico de som) e do pouco tempo disponível, creio que este registro tornou-se uma referência importante para aqueles que quiserem conhecer um pouco da cultura do samba, em especial a da Portela. Monarco, nosso grande mestre, no final de um dos seus mais belos sambas afirmou: 'Se for falar da PORTELA, hoje eu não vou terminar'; e eu, lhe pedindo licença, acrescento: 'de sua VELHA GUARDA também'", escreve Paulinho no novo encarte.
Abaixo, a velha guarda em ação.
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