terça-feira, 16 de junho de 2009

A pátria de máscaras


Em 1970, o futebol brasileiro era um esporte "belo, calmo e simples", para usar uma definição de Sócrates. E, mesmo em meio ao período mais sinistro de nossa história recente, o povo brasileiro orgulhava-se de sua seleção nacional. Como não estufar o peito para declinar aquela escalação? Félix, Carlos Alberto, Piazza, Brito e Everaldo; Gérson, Clodoaldo e Rivelino; Tostão, Pelé e Jairzinho. A arte podia vestir meiões e caneleiras.
Em 1982, o Brasil, que já havia reinventado o esporte criado pelos ingleses, reinventou novamente aquele que então era o esporte (re)criado pelos holandeses mecânicos nos anos 70, formando a seleção mais brilhante de todos os tempos. O insucesso do time de Telê foi o canto do cisne do futebol-espetáculo, do futebol-arte, que deu lugar à boçalidade pragmática de técnicos taroucos e cínicos - que nunca conseguiram perceber que o único sentido do futebol é mesmo o do espetáculo, sua ética é a ética da arte. Se aquele time ganha a Copa, não só os rumos do futebol seriam outros, mas a própria razão do esporte alcançaria outros horizontes. Apesar da derrota no Sarriá, o envolvimento da população com o time canarinho era tal que ele desembarcou no Brasil festejado, nos braços dos torcedores, que jamais esqueceram aquela escalação: Valdir Peres, Leandro, Luizinho, Oscar e Junior; Zico, Sócrates, Falcão e Toninho Cerezo; Serginho e Éder.
Hoje... Bom, hoje são cada vez mais raros os torcedores que se estimulam com um jogo da seleção brasileira e são menos ainda os que conseguem lembrar de seu time-base. Ou você seria capaz de, em poucos segundos, lembrar dos nove jogadores que ligam Júlio César a Robinho? Tudo bem que a risível e pífia condução de Dunga não permite grandes facilidades ao torcedor. A seleção virou outra coisa. Virou uma muleta de marketing preciosa para a televisão e um balcão de negócios extremamente rentável para empresários e cartolas, todos abençoados por Ricardo Teixeira. A pátria de chuteiras virou a pátria de máscaras, de caneta na mão, doida para assinar o próximo contrato milionário e ir morar bem longe.
Assistindo aos melhores momentos - se é que se pode encontrar algo assim em meio àquele futebol truculento, exasperado e esnobe - do jogo contra o Egito, essas inquietações de torcedor vieram à tona. E me deixaram com uma inconsolável melancolia, embalada pelas platitudes sintomáticas de Galvão Bueno... Que o Messe nos resgate em Buenos Aires.

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