Um disco de som abravasivo, explosivo, catártico. Uma epifania sonora embalada pela espiritualidade que pulsavas nas composições de Coltrane desde A Love Supreme. Há quem o compare, numa comparação apressada mas não de todo equivocada, aos fluxos espontâneos dos quadros de Pollock. Mas é importante perceber a investigação em meio à aparente gratuidade, o sentido de liberdade em meio à aparente libertinagem, a espiritualidade em meio à concretude do som.
Formado por um único tema de 40 minutos de duração, Ascencion (1965) é mais visceral que A Love Supreme (1964) e é o corolário da atonalidade e da polirritmia que Coltrane passou a explorar de maneira até hoje desafiadora na última fase de sua carreira. O homem que queria falar com Deus acabou por virar uma divindade por conta de discos como esse. E aqui não vai força de expressão: Coltrane é cultuado na igreja Saint John Coltrane Church, em São Francisco.
A seu lado, no disco, Freddie Hubbard, Pharaoah Sanders, McCoy Tyner, Archie Shepp, entre outros gigantes. Um time de peso dialogando, provocando, tensionando, iluminando uma transcendência sonora difícil de se transpor. O caminho dos homens, afinal, é sempre tortuoso. Mas também pode ser belo e redentor.
Abaixo, um trecho do disco, com solos alternados de Coltrane e Shepp.
Um comentário:
Corajoso! Feroz! Maravilhoso!
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