quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Em busca da auto-literatura

Lançado há dois anos, é um dos grandes livros da década.  Ou pelo menos um grande livro para aqueles que, como eu, não acreditam em fórmulas mágicas de sucesso, em receitas transcendentais de felicidade nem em workshops sobre crescimento profissional ministrados por picaretas de vários matizes. Trata-se de 35 segredos para chegar a lugar nenhum, uma deliciosa coletânea organizada por Ivana Arruda Leite (e prefaciada por Machado de Assis, através de psicografia de Desdêmona de Antioquia). São 35 exemplos do melhor daquilo que Ivana define como literatura de baixo-ajuda. Um conjunto de pequenas reflexões, elaboradas com doses inclementes de ironia e sarcasmo, que arejam a vista, "desopilam o fígado" e fazem valer a máxima de Freud segundo a qual o humor é "a vingança do princípio do prazer contra o princípio da realidade". José Roberto Torero, Marcelino Freire, Fernando Bonassi, Xico Sá, Nelson de Oliveira são alguns dos autores convidados ao "empreendimento". Além do cearense Jorge Pieiro.  
Em vez do "segredo do meu sucesso", do "como se tornar um líder" e outras platitudes de espírito, o leitor vai encontrar dicas bem mais produtivas. Coisas do gênero "Como procurar trezentos espetos de picanha desaparecidos" (Cíntia Moscovich), "Como a classe média deve tratar os ricos no Brasil" (Antonia Pellegrino), "Livros de auto-ajuda: como largar este vício" (André Laurentino), "Como maximizar o uso do músculo lingual" (Jorge Pieiro), "Como não escrever um bilhete de suicida" (Xico Sá) e assim por diante. Mas bem adiante mesmo. Em "Como ser feliz sem chegar ao topo", Marcelo Carneiro da Cunha dá preciosas dicas para os milhares de homens e mulheres do nosso tempo que "sofrem com a demanda injusta e sem sentido de atingir um objetivo qualquer". 
Há também a revolucionária (mas perfeitamente factível) cartilha sobre "Como fazer sexo (seguro) na fila do banco", de Luiz Paulo Faccioli; e o produtivo manual sobre "Como escrever um cartão-postal", de José Roberto Torero, que recomenda uma missiva com péssimas recomendações sobre os destinos da viagem do que um pequeno libelo-exaltação dos locais por onde o viajante passa.  
Em resumo, à literatura de auto-ajuda - como indica Andréa Del Fuego, autora de "Como ganhar um Jabuti" (imprescindível, aliás, para aqueles que acabaram de levar o prêmio homônimo pra casa) -, prefira sempre a alta-ajuda. Ou, pelo menos, a auto-literatura. 

5 comentários:

criscalina disse...

Ei, Felipe, é uma boa dica de leitura para quem está a domesticar o pensamento estudando pra concurso. :D Acho que depois da prova, vou me des-domesticar com esse livro. :D

Felipe Gurgel disse...

Felipão, muito massa a dica. Vou atrás desse livro.

margot disse...

Na mesma pegada, sugiro Banalogias, de Francisco Bosco. Disponível para empréstimos.

Felipe Araújo disse...

Cara Margot,

O Banalogias já passou por essas mal traçadas. Espia depois. É, de fato, uma grande livro. Sou um grande entusiasta dos escritos do Francisco Bosco.

Abração!

Felipe Araújo disse...

Cara Cris,

Desdomestiquemo-nos todos!

Abração