quarta-feira, 23 de julho de 2014
Onde houver ouro, que eu viva o lixo
Desculpem o mau humor nessa hora - talvez seja pela iminência da partida do mestre Ariano Suassuna (que, ao contrário do O Globo, torço para que não aconteça tão cedo). Mas vendo esse vídeo da Snarky Puppy, uma formação instrumental de Nova York, fico aqui a pensar como o mundo segue querendo saber das coisas boas da nossa música (xote, baião, samba, maracatu, etc); mas nós insistimos em querer saber apenas das nossas próprias versões em negativo (forró de plástico, pagode romântico, funk ostentação, sertanejo univesitário, etc).
O mundo segue vendo ouro na gente e a gente montando uma enorme cadeia de produção de lixo. O mundo querendo saber mais do Brasil grandioso e intenso de Ariano Suassuna, de Darci Ribeiro, de Cartola, de Villa-Lobos, de Tom Jobim, de Mano Brown; e a gente insistindo no Brasil pequeno, no Brasil cretino de Regina Casé, de Luciano Huck, de Michel Teló, de Wesley Safadão.
Ao longo de décadas, o lixo parece ter sido tanto que nossas veias armoriais entupiram, nosso aparelho tropicalista engasgou, quebrou. Não digere mais nada. Não processa mais som algum. A cólica é a sina de nossa antropofagia tardia. Nossa música "oficial" - aquela das rádios e da televisão - tornou-se a pior expressão do que poderíamos ser. Enquanto Leminski anunciava que "isso de querer ser / exatamente aquilo / que a gente é / ainda vai / nos levar além", o brasileiro insiste em querer ser um pastiche, um reflexo apagado e tosco de si mesmo. Insistimos em ser aquém. A sermos um celeiro musical do mundo, preferimos nos tornar um aterro sanitário continental.
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