sexta-feira, 15 de abril de 2011
O inferno são os outros
Dirigir em Fortaleza é um verbo intransitivo. Eu dirijo e ponto. Eu sigo lento na faixa esquerda, eu paro em faixa dupla, eu faço conversões proibidas, eu fecho cruzamentos. Eu posso. Eu, eu, eu. E o restante dos motoristas que se dane. O inferno são os outros. Ao volante, o fortalezense perde o registro da alteridade e revela sua face mais sórdida, sua vocação para a tirania e para a grosseira. Leso ou tosco, a Cidade tem o pior motorista do Brasil. Uma cidade de formação despudoramente patrimonialista, tocada por uma elitezinha escrota, incivilizada e acéfala, que emporcalha as ruas pelo vidro da Hilux e quer politizar engarrafamentos e buracos, não podia gerar outro tipo de trânsito. Ai de ti, Fortaleza - essa falsa holandesa que se deslumbrou com seu rosto refletido numa imensa poça de lama na Aldeota e mal sabe dar na Dom Manuel. Agroboys e playboys de todas as classes sociais saúdam tuas distâncias. E estupram tua delicadeza.
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2 comentários:
boa reflexão sobre nossa cidade.
já tá no Diumtudo
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