Blue e Jade: clichês não embaraçam ufanistas nem apátridas |
O mercado blockbuster norte-americano é o campo do estereótipo e do clichê; cinema pode ser uma outra coisa. É preciso retornar a esse ponto de partida para poder assistir sem grilos de consciência (e, sim, curtir bastante) a animação Rio. Os estereótipos sobre o Brasil estão lá, mas não causam maiores embaraços, nem aos ufanistas nem aos apátridas de plantão; e emolduram a divertidíssima história contada com maestria por Carlos Saldanha. O requinte da recriação do Rio de Janeiro através da computação gráfica é um espetáculo à parte (ou ao centro) e, muito longe daquele país abandonado à própria sorte, esquecido por Deus e lembrado apenas pelos turistas à caça de putas a céu aberto ("Blame it on Rio", "Turistas", etc), o que pulsa ao longo da regimental hora e meia de duração é um local exuberante e apoteótico, mas também (Saldanha faz questão de nos lembrar com uma leveza que talvez seja sua grande sacada) contraditório e desigual. O que importa, no entanto, são mesmo as hilárias desventuras das duas araras protagonistas e seus atrapalhados parceiros. No mais, apenas os moradores de Minnesota, contraponto gelado e enfadonho ao cenário quente e colorido em que transcorre a história, são os únicos com reais motivos pra reclamar do filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário