segunda-feira, 14 de junho de 2010

Israel: a culpa e o cartório


O trecho abaixo é do artigo Israel without clichés, do historiador Tony Judt, publicado no New York Times e reproduzido no Brasil pelo Globo no último domingo. Uma proposta de discussão para além das (cada vez mais risíveis) desculpas de praxe e das facilidades acusatórias que contaminam o debate, muito mais matizado do que querem fazer crer os dois lados envolvidos na questão.

"Israel não é responsável pelo fato de que muitos de seus vizinhos mais próximos tenham negado longamente seu direito de existir. A sensação de cerco não deve ser subestimada quando tentamos compreender a qualidade delirante de muitos pronunciamentos de Israel.
Previsivelmente, o Estado adquiriu hábitos patológicos. Desses, o mais prejudicial é o seu habitual recurso à força. Como isso funcionou por muito tempo — as vitórias fáceis dos primeiros anos do país estão enraizadas na memória popular — Israel considera difícil conceber outras formas de responder.
E o fracasso das negociações de Camp David em 2000 reforçou a crença de que “não há ninguém para conversar”.
Mas há. Como as autoridades americanas reconhecem internamente, mais cedo ou mais tarde, Israel (ou alguém) terá que conversar com o Hamas. Da Argélia francesa à África do Sul, passando pelo IRA, a história se repete: o poder dominante nega a legitimidade dos “terroristas”, reforçando assim as suas mãos, para depois, então, secretamente negociar com eles e, finalmente, admitir o poder, a independência ou um lugar na mesa. Israel vai negociar com o Hamas: a única pergunta é por que não agora".

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