terça-feira, 11 de junho de 2013

Nós que nos amávamos tanto (e amávamos tanto o jornalismo...)



Nós jornalistas vivemos uma terrível esquizofrenia. Teoricamente, por termos curso superior, nos vemos como profissionais liberais; mas, ao contrário de dentistas, arquitetos, advogados, etc, somos obrigados a alienar nossa força de trabalho porque não podemos, afinal de contas, montar um jornal, uma TV, uma rádio para cada um de nós. Por outro lado, as promessas da internet ainda não vingaram como realidade pecuniária. O que temos, por enquanto, é apenas uma farra libertária, que é ótima como (um início de) democratização da informação, mas que ainda não se consolidou como mercado de trabalho.
Pelo menos toda uma geração ainda nos separa de uma nova realidade de produção da informação (independente, liberal e com rendimentos decentes) no mundo digital. Até lá, na internet, com raríssimas exceções, reinará um quase diletantismo. Por ora, seguiremos como funcionários, peões com jornadas de trabalho extenuantes e sob imensa pressão. Seguiremos como trabalhadores de baixa renda, numa profissão que passa por uma histórica crise estrutural; nosso desemprego é estrutural. Há os que se acham algo além por conviverem de perto com os poderosos da política e/ou os donos do poder econômico. São cínicos ou ingênuos. Ou tudo isso junto. Ou coisa pior...
O debate sobre o diploma me parece um falso debate. De um lado, há os que querem nivelar por baixo a discussão e acabar com sua obrigatoriedade - são os que defendem o bundalelê no mercado. Pois penso que devemos nivelar essa discussão por cima e fazer do jornalismo um curso de pós-graduação. Quer ser jornalista?! Forme-se em direito ou economia ou história ou computação ou engenharia ou o que for e faça uma especialização em jornalismo. Isso iria elevar decisivamente o nível da nossa produção e criar uma outra realidade de mercado.
A nosso favor, por enquanto, ainda temos o fato de que somos fundamentais para a democracia e para o chamado estado de direito. Somos fundamentais para restituir ao debate público o espírito crítico. Somos imprescindíveis para dar voz a quem não consegue se manifestar publicamente. Ainda somos... Entretanto, somos todos, indistintamente, proletários. E isso parece nos causar um desconforto, parece criar um tabu, ensejar um recalque que embaça nossa capacidade de articulação e de mobilização. Some-se a isso, como é o caso do Ceará, um sindicalismo pífio e personalista e, voilà, eis o nosso dia-a-dia.
Enfim, sou apaixonado pelo que faço e tenho sincero orgulho de ser jornalista. Seguirei com meu ofício por acreditar realmente nessa missão. Mas talvez daqui a algum tempo tenha de procurar outra profissão para pagar minhas contas e, quem sabe, também custear meu ofício. Como o advogado que é apaixonado pela marcenaria; ou o engenheiro que também é cozinheiro; ou o médico que também é poeta.
Poderei me reinventar (creio que terei de me reinventar) e passar a ser outra coisa, mas seguirei sendo jornalista. Isso me cria enormes problemas e dificuldades, mas me dá uma imensa alegria.

2 comentários:

ronaldinho disse...

Isso é para nos colocar em permanente estado de reflexão, querido amigo. Abraço!

Felipe Araújo disse...

Meu mestre/amigo querido, não sou digno que entreis nessa "morada". Seja bem vindo... Beijão