sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Pochmann, Lula e o "diabo"


Se fosse na cotação de cinema do Globo, a entrevista do economista Márcio Pochmann (foto acima) à revista Caros Amigos levaria a melhor avaliação, aquela do bonequinho aplaudindo de pé. Um dos trechos ratifica os diferentes pesos e medidas que (des)equilibram a cobertura política e econômica dos jornais e revistas de circulação nacional em relação ao governo Lula. 
Em determinada altura da conversa com José Cristian Góes, Pochmann explica por que o Brasil não sentiu tanto os reflexos da crise mundial. Com as melhoras verificadas nos últimos cinco anos - redução do número de pobres, redução das desigualdades, incremento e ampliação do salário mínimo, a melhora do crédito e recuperação de gastos sociais - o País foi atingido pela crise em trajetória positiva de expansão. Além disso, ao contrário das três grandes crises anteriores, em especial a crise da dívida externa de 1981-83, a recessão do Governo Collor (1990-1993) e a crise financeira e cambial na virada do primeiro para o segundo mandato de FHC, o Governo de plantão adotou um novo receituário de políticas públicas. Nas crises anteriores, a crença era a de que a saída para a crise se dava pelo mercado externo e não interno, com aumento da nossa subordinação às decisões internacionais. Para isso, a cartilha neoliberal - de que o vendilhão FHC usou e abusou - mandava aumentar impostos, reduzir gastos públicos, arrochou salários e não ampliou as políticas que atendem a base da pirâmide social.
"De outubro do ano passado para cá o governo Lula não repetiu essas medidas, pelo contrário. O governo tem mantido e até ampliado o gasto público", explica Pochman, que cita como sinais positivos de medidas contra a crise a construção de 400 mil casas populares para a população muito pobre, a redução de impostos como o IPI, o aumento de 12% do salário mínino e a ampliação do número de famílias atendidas pelo Bolsa Família. Além disso, segundo o IBGE, entre outubro de 2008 e março deste ano, durante o olho do furacão da crise, cerca de 315 mil pessoas saíram da condição de pobreza nas grandes cidades. "Pela primeira vez desde 80 os pobres não estão pagando os custos da crise como no passado. De 80 pra cá, em todas as crises houve aumento do desemprego e da pobreza. Nesta, até agora isso não ocorreu".
Tivéssemos uma imprensa mais séria, esses dados estavam sendo dissecados diariamente, aperfeiçoados, debatidos. Mas não. A cobertura vira uma panacéia enredada numa crise moralista, eleitoreira e cínica envolvendo o Senado, como se todos os males da Nação passassem pela permanência ou não de Sarney. Muitos deles passam pela cadeira da presidência da Casa, é fato - e o Governo comeu mosca ao abraçar os bigodões do coronel maranhense de olho em 2010. Mas também passaram por lá durante o governo de FHC, que, abraçado aos mesmos bigodões, quebrou o País duas vezes e atravessou oito anos recebendo loas da nossa "maior" imprensa. 
Lula vendeu sua alma ao "diabo" na mesma encruzilhada em que FHC vendeu a alma da Nação ao mercado. A diferença é que não usou o povo brasileiro como fiador. 

Um comentário:

Unknown disse...

Felipão

Concordo com você que nossa estratégia, enquanto nação, foi melhor do que fora anteriormente. Algumas ações do governo federal foram decisivas na retomada econômica pós-crise. Do ponto de vista de gestão, eu tenho minhas ressalvas em alguns aspectos, mas concordo que o resultado final foi satisfatório.

Concordo também no que se refere à questão de que nem todos os problemas do Brasil passam pelo Congresso, muito menos em especial pelo Senado. Mas, sem querer dar um tom moralista, acredito que o Brasil (novamente enquanto nação) precisa aproveitar todas as situações que, em gestão, a gente costuma chamar de "pontos de melhoria". Algo como uma versão politicamente correta de "ruim pra caralho".

Aproveitar estas oportunidades significa, por exemplo, entender os motivos e fechar o buraco por onde uma "marmota" passa (atos secretos, 250 mil diretorias etc. por exemplo). A idéia é simples: reconhecemos o problema. Analisamos como e por que ele ocorreu. Resolvemos o problema. É um processo lento, gradual mas de melhoria contínua (outro chavão de gestão). Devargazinho, seremos melhor como máquina nacional do que éramos antes, até chegarmos num ponto de mais justiça, mais inclusão, mais dignidade para todo mundo.

A questão maior, e que, francamente, destruiu meu coração PTista assumido, é o tipo de vista-grossa que é feito em nome de uma sucessão travestida de governabilidade.

É importante eleger um sucessor de modo a dar continuidade a um projeto de melhoria do Brasil de longo prazo. Não há dúvidas quanto a isto. Mas usar apenas este argumento como tapa-olho de burro de estrada é perigoso demais porque gera aberrações que destroem grande parte das melhorias que foram alcançadas.

Esta postura do PT governo federal, infelizmente, é imediatista. Usar de Maquiavel para justificar tudo é, no mínimo, incoerente com a filosofia do PT.

Crucificar Sarney não é a solução de todos os males, assim como não é a eleição da companheira Dilma em 2010.