Um disco lançado recentemente enfrenta de maneira corajosa a provocação do poeta concretista, fugindo dessa tentação da "mistura" e propondo novas abordagens para a música popular. Trata-se do segundo volume da série Brasilianos, do quinteto de Hamilton de Holanda. Nesse trabalho, Hamilton leva a um patamar ainda mais alto a tensão e as experimentações a que tem submetido não só a tradição da música instrumental no Brasil mas os próprios limites harmônicos e timbrísticos do bandolim. Não à toa, por exemplo, se notabilizou por utilizar um instrumento de dez cordas, duas além das oito tradicionais.
Nesse Brasilianos 2, a virtuose é o caminho percorrido pelo quinteto para afirmar seu próprio texto, sua própria expressão. O que não significa apenas correria ou malabarismos cromáticos. Mas a elaboração de texturas, diálogos e contrapontos que fazem transbordar pelo disco uma enorme sensação de liberdade - que começa na pouco usual constituição do quinteto (contrabaixo, violão, gaita, bateria e bandolim).
Em "A vida tem dessas coisas", uma das faixas mais representativas do estilo e do vigor de Hamilton de Holanda, o afro-samba recebe pitadas de Villa-Lobos entre os bordões do contrabaixo e do violão. Em "O mundo não se acabou", a vertigem do maculêlê faz a cama para a cascata de notas com tal exuberância que poderia fundir a cuca de um crítico de jazz mais careta. "Carolina de Carol" aproxima o ijexá da salsa e tenta traduzir a confusão de uma brincadeira entre várias crianças - como o são, afinal, Hamilton e seus escudeiros pela absoluta falta de medo do perigo, do desconhecido. "Tamanduá" e "Estrela Negra" entregam o que o samba "Ano bom", que abre o disco, prometia. Rara felicidade.
Hamilton e seu quinteto podem até nem responder devidamente à provocação de Pignatari. Mas, no mínimo, propõem novas perguntas que são tão ou mais interessantes que uma resposta pronta.
Abaixo, o quinteto em ação.
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