terça-feira, 30 de setembro de 2008

Quem ferra o touro?


Deixa ver se eu entendi. O panfleto fascista chamado Veja saudou o pacotaço de U$ 700 bilhões que Bush ia colocar no colo dos banqueiros e agiotas quebrados de Wall Street e setenciou que o Governo Lula, a bem do Brasil, tinha, diante da crise, de parar com a "gastança pública" e apertar novamente o nó do superávit primário. Bom, a barrigada da Veja foi antológica: o Congresso americano disse não e o Tio Sam acabou sem socorrer ninguém. Ponto para a Carta Capital desta semana que colocou a metáfora no seu devido lugar. Ainda assim, a revista dos Civita saudou o banditismo do cassino financeiro mundial como o injetor de liquidez responsável pelo crescimento de países como o Brasil. E mandou o presidente repensar medicinalmente o "intervencionismo" do Estado no Brasil e seus "gastos". Naturalmente, a revista esqueceu de se referir ao Proer, à privataria tucana e à compra da reeleição do presidente FHC nos balcões do Congresso como evidências deste crescimento financiado com capital especulativo devidamente segurado por grana pública.

Sei não, mas depois que o delegado Protógenes, o juíz de Sanctis e o superintendente Paulo Lacerda foram eleitos "culpados" pela cobertura do episódio Daniel Dantas, é capaz da fatura da escumalha engravatada de Nova York estourar mesmo no colo de Lula e da esquerda latino-americana. Enquanto isso, o touro de Wall Street (foto) vai seguir sem ser ferrado. Eita imprensa!

Um comentário:

Américo Souza disse...

Concordo pelanamente, nobre Blogueiro.
Nos últimos meses e, com particular intensidade nas últimas semanas, o mundo tremeu ao perceber que está metido em mais uma grave crise financeira. Crise que levou à bancarrota, ou à proximidade dela, instituições sólidas e importantes, como o banco Lehman Brothers e a seguradora AIG, com repercussões assustadoras para os cidadãos que têm depositado no sistema financeiro a confiança para gerir de uns as riquezas, de outras as minguadas poupanças.
Todavia, não sendo eu qualificado para fazer análises econômicas e financeiras, recolho-me à humilde condição de historiador, para tentar apreciar esse episódio para além dos números e equações.
Durante a crise asiática, em 1998, ou na crise da bolha tecnológica, em 2003, como agora, ecoaram as vozes dos que costumam bravejar: “Deixem o mercado trabalhar!”
Nas duas crises anteriores deixamos o mercado trabalhar livremente e o resultado disso, hoje amargamos todos. Especialmente os contribuintes, pois é com o dinheiro dos impostos de muitos que o fracasso administrativo de poucos é sempre aliviado.
Como antes, uma vez mais leio e ouço na grande imprensa a difusão da compreensão de que a culpa é dos erros do Estado. No caso atual, da política econômica de George W. Bush.
Concordo que em sua administração este ícone do conservadorismo conseguiu a proeza de fazer tudo errado. Contudo, culpar a administração pública tem sido de desculpa, já desgastada, dos que insistem em não enxergar que o real problema é o sistema.
Será que é tão difícil perceber que um sistema econômico baseado na exploração, na exclusão social e concentração e renda não pode funcionar, senão pontuado por sucessivas crises por ele mesmo provocadas?
O mundo tem diante de si uma escolha, deixar novamente o “mercado funcionar”, e aí estaremos todos a lamentar uma nova crise em breve, ou reconhecer que precisamos construir um novo modelo, pautado em valores inversos àqueles do capitalismo.