terça-feira, 30 de setembro de 2008

Machado e a crise


"Não há bancos eternos. Todo banco nasce virtualmente quebrado; é o seu destino, mais ano, menos ano".

"As pessoas foram crianças, não esqueceram decerto a velha questão que se lhes propunha, sobre qual nasceu primeiro, se o ovo, se a galinha. Eu, cuja astúcia era então igual, pelo menos à de Ulisses, achava uma solução ao problema, dizendo que quem primeiro nasceu foi o galo. Esta semana lembrei-me do velho problema insolúvel. Com os olhos no chão, repeti o monólogo de Hamlet, perguntando o que nasceu primeiro, se a baixa do câmbio, se o boato. Se ainda tivesse a antiga astúcia, diria que primeiro nasceram os bancos".

"O mal do câmbio parece-se um pouco com o da febre amarela, mas, para a febre amarela, a magnésia fluida de Murray, que até agora só curava dor de cabeça e indigestões, é específico provado neste verão. (...) Que magnésia há contra o câmbio? Que Murray já descobriu o modo certo de acabar com a decadência progressiva do nosso triste dinheiro?"

Os trechos acima foram escritos por Machado de Assis em sua coluna "A semana", no jornal "Gazeta de notícias", na virada do século XIX para o século XX. Como se percebe, certas coisas permanecem até nossos dias: a genialidade do Bruxo do Cosme Velho e o cinismo de certas instituições financeiras.


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