quarta-feira, 3 de julho de 2013

A metamorfose (Poemetes araújos - XXII)

Male and female (1942), de Jackson Pollock

Certo dia, acordou
saudoso de intensidades
              outrora sonhadas.
Ou, talvez, tenha
despertado após sonhar com
              intensidades já saudosas.
Em si, restou-lhe
abandonar um lar,
trair um país,
              sabotar sorrisos.
Restou esquecer a palavra no altar;
e virar sentido
em busca de altar
para sua palavra.

Quis saber dos atores para além
das cortinas.
Quis saber dos poetas em
suas esquinas.
Rasgou o livro da formalidade.
Restou-lhe ele próprio, saudoso
de um sonho de que já esquecera.
Restaram-lhe essas escaras,
esse vagar pesado,
essas queimaduras de paixão
               de terceiro grau.
Restou-lhe espiar
amores alheios, sem
saber que,
desde antes,
era o amor que lhe espiava:
               pacato, resignado.

Monumento ao soldado morto,
e desconhecido,
perdeu uma guerra que lutou
de trás pra frente.
Médico, fez-se paciente.
E ficou, à mão, sem qualquer verdade.

Resultado:
segue já não tão convicto
em suas dúvidas sobre
a felicidade.


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