quarta-feira, 18 de julho de 2012

Chagas aberto



Benfica, essa ilha. Essa promessa de vida e felicidade no coração de Fortaleza. Assediado permanentemente pela violência, é fato. Mas quem sabe do bairro não abandona suas ruas. Essas características do bairro não explicam, mas ajudam a entender por que são vários os bares tradicionais localizados naquele quadrilátero formado pela Marechal Dedodoro, Avenida da Universidade, 13 de Maio e Eduardo Girão. Estabelecimentos como o Nonato, o Bar do Luiz e, o mais tradicional de todos, o Bar do Chaguinha, que há 56 anos fincou bandeira na esquina da rua Padre Francisco Pinto com a rua João Gentil.
O Chaguinha é nosso Lamas, o nosso Capela, de tal modo encravado na geografia do bairro e tão firmemente incorporado ao imaginário de seus convivas que não se imagina o Benfica sem a cerveja, a música ou os petiscos do local. A infantaria do cardápio é formada pela panelada, um das mais famosas da Cidade; e pelo carneiro cozido, outro de reputação igualmente celebrada. A mão de vaca e a costelinha de porco também merecem algo de bom a ser dito. Os valores são módicos, embora a experiência de viver Fortaleza a partir dos encontros que se dão no bar não tenham preço. Às sextas-feiras, tem seresta. Os sábados começam com samba – comandado por Zé do Cavaco (o canhoto mais rápido deste meridiano). Tudo na base da espontaneidade, sem amarração. Meio dentro do bar, meio na calçada. A vida, afinal, pulsa melhor quando sai à rua, enfrentando de peito aberto suas contradições e colocando seus fantasmas para secar ao sol. Ou para desidratar sob as estrelas.
Texto publicado originalmente na coluna Papo de Botequim, caderno Comes & Bebes, jornal O POVO (13.07.2012).

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