terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Jazz, música da felicidade

Há alguns tópicos, eu falava de um ensaio escrito por Francisco Bosco em que ele discutia a noção de felicidade na música. E defendia como uma música feliz não é necessariamente uma música de ritmo acelerado e/ou vibrante, mas uma música bem realizada, que atualiza de maneira plena sua potência. Assim, Milton nascimento soa caricaturalmente triste quando se propõe a cantar o que o senso comum consideraria algo "alegre"; mas soa profundamente alegre, pleno, justamente quando realiza aquilo que sabe fazer melhor, as supostas músicas "tristes".
Essa noção foi - e continua sendo - muito útil para minha trajetória como ouvinte de jazz. Mais do que uma música afetada, chata, escrita para eleitos, o jazz sempre um terreno da felicidade, aquela felicidade da plena realização de que nos fala Bosco. Ao contrário do chorinho e do samba - que me parecem felizes porque lidam de maneira exuberante com um lastro primordial de tristeza que perpassa as partituras e as letras de um e de outro -, o jazz me parece essencialmente alegre, posto que livre. E que alegria maior poderia para um músico do que embalar sua rigorosa (sim, o jazz é rigoroso!) formação técnica com o ar da liberdade, da criatividade permanente. 
É fato que, quando o assunto é jazz, há interlocutores insuportáveis, que lidam com a música como uma propriedade intelectual intransferível e costumam vomitar fastio e empáfia sobre a história do gênero. O que esses "jazzeiros" - parentes próximos dos "sambeiros" - não sabem é que o ouvinte de jazz pode ser o mais "desinformado" dos mortais; basta se deixar levar pela intensa alegria que move cordas, sopros e baquetas do gênero - que justamente por isso, é um dos mais democráticos. 
O problema é que nosso ouvido já se encheu de tanta música ruim e, pior, autoritária, que, ao se defrontar com a liberdade do jazz - ou com a exuberância do chorinho, da chamada "música erudita" ou de qualquer outra expressão instrumental -, fica meio intimidado. 
Abaixo, um vídeo que me parece bem sintomático do que proponho aqui. Trata-se do quinteto de Benny Goodman. O mitológico Lionel Hampton participa do vídeo tocando vibrafone. Atentem também para a performance do baterista (alguém me ajuda com o nome dele? Seria o também mitológico Gene Krupa?). Poucas coisas poderiam soar mais livres e, por isso mesmo, felizes.


2 comentários:

Anônimo disse...

é opróbrio!
oreré

Felipe Araújo disse...

Valeu Andrezão!