2009 começa com uma ótima polêmica. Guiomar de Grammont, uma professora de Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto, acaba de lançar um livro onde questiona aspectos da biografia de Aleijadinho (1730-1814) e defende que o escultor, artífice do barroco brasileiro, não foi um, mas vários. O volume chama-se O aleijadinho e o aeroplano e saiu pela Civilização Brasileira. Segundo Grammont, não só os métodos de análise que atribuem a autoria de inúmeras obras a Antônio Francisco Lisboa, o nome por trás do apelido do escultor, estão equivocados; mas também as provas documentais a respeito do artista são insuficientes para atestar a autenticidade de qualquer uma de suas obras.
A imprensa mineira reagiu aos chutes e pontapés ao "sacrilégio" da professora. "Ela quer matar Aleijadinho", por exemplo, foi uma das manchetes estampadas num jornal de Belo Horizonte. E mais bordoadas devem vir adiante. Afinal, como lembra o jornalista Antonio Gonçalves FIlho, em matéria publicada no Estado de São Paulo do último domingo, o protótipo do brasileiro mestiço, doente, que supera suas limitações para mostrar ao mundo sua genialidade sempre serviu aos governos e à construção da chamada identidade nacional, particularmente depois do golpe de 1937. Tanto que o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), criado poucas semanas depois do golpe, não mediu esforços na busca por documentos relacionados à figura de Aleijadinho. Entre eles, a primeira biografia oficial, escrita por Rodrigo José Ferreira Bretas.
Segundo Grammont, a biografia incorporou dados e episódios da vida de Michelangelo contada por Vasari como se pertencessem à Aleijadinho e, com isso, fez do artista de Villa Rica uma invenção romântica e nacionalista de Bretas, assimilada e estimulada por pesquisadores e governos da poesteridade. Além disso, de acordo com a professora, o escultor teria de viver umas dez vidas para esculpir todas as obras a ele atribuídas.
Na foto acima, Caminho para o Calvário, obra atribuída a Aleijadinho.
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