terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Cristina Buarque


Manezinho da Flauta, um dos colossos do sopro brasileiro, foi convidado para tocar num show que, salvo engano, no início dos anos 70, fazia muito sucesso pelo País: Originais do Samba, Márcia e Baden Powell. Terminada a apresentação, do alto de sua simplicidade e ingenuidade em relação à fama internacional de Baden, disparou o convite: "Gostei muito do seu violão e estou precisando de um violonista para o meu regional. Você não quer tocar com a gente?".
Entre risos intermináveis e uma simpatia inabalável, essa foi uma das dezenas de histórias deliciosas que Cristina Buarque compartilhou com a gente no último fim de semana, durante sua passagem por Fortaleza. Aos 58 anos, Cristina é uma de nossas grandes cantoras e uma das principais pesquisadoras e divulgadoras de uma tradição de sambistas que, não fosse por ela, se enterraria no ostracismo. Seu repertório (praticamente infinito) é fruto de suas pesquisas e andanças (recentemente, gravou um trabalho lindo com o grupo Terreiro Grande, em São Paulo, uma turma especializada em sambas antigos das escolas do Rio de Janeiro). Já suas histórias são fruto da convivência com quase todo o olimpo do samba brasileiro: de Clara Nunes a Roberto Ribeiro, de João Nogueira e Nelson Cavaquinho, de Cartola a Clementina de Jesus.
Sempre agarrada ao cigarro e a um copo de cerveja, Cristina é uma senhora franzina, de passos rápidos e olhar melancólico. Seu bom humor e sua cordialidade, no entanto, são do tamanho de seu valor para a história do samba. Não reconheceu Fortaleza, que lhe pareceu "muito nova", quase vinte anos depois de sua última visita. Brahmeira fiel, se decepcionou com a Brahma da Cidade: "tem gosto de Skol!". Rendeu-se, então, temporariamente, à Antartica, servida com o devido mofo na roda de samba do Bar do Arlindo.
A roda de samba foi sua última escala musical na Cidade, num roteiro que começou na sexta com um show inesquecível no Anexo do Docentes e Decentes. Cristina saiu deixando uma penca de elogios aos músicos que lhe acompanharam - exceto, óbvio, pela minha performance na clarineta, mas isso é uma outra história... No domingo à tarde, um almoço maravilho do Onofre. Toinho e Juliana apareceram, Déborah e Fernando também. Minha mãe foi lá e se encantou com a conversa. Thales, Alfredo e Américo (que, mais uma vez, arrebentou nas fotos) completaram o time. No cardápio, histórias como aquela em que Chico Buarque achou um absurdo a crônica de Mário Prata segundo a qual Sérgio Buarque de Hollanda fazia uso terapêutico de maconha e que Dona Amélia, matriarca do clã, bebia uísque. "Minha mãe só bebe cachaça!", teria dito um Chico inconformado. E tome risos.
Em seguida, eu e minha esposa fomos deixá-la no aeroporto. Como o vôo atrasou, deu tempo para mais umas duas cervejinhas e mais um punhado de causos antes do embarque. Ora hilários, ora dramáticos, mas narrados sempre com leveza e com entusiasmo. Do lado de cá, ficou o desejo de um retorno em breve a Fortaleza. Do lado dela, o convite para conhecer Paquetá, onde Cristina foi se refugiar longe dos carros e da ebulição do Rio de Janeiro.

3 comentários:

Dante Accioly disse...

Cara, lembro quando você me falou pela primeira vez que estava negociando a ida dela para Fortaleza. Que bom que deu tudo certo! Vocês estão matando a pau!!!!! Parabéns! Que venham os próximos!!!!!

Felipe Araújo disse...

Valeu Accioly,
O show foi ótimo e ela é uma figuraça, cara. Tu ia adorar. Estamos todos muito felizes. Ainda voltando à realidade depois de um fim de semana maravilhoso. Faltou você, meu amigo véi.
Tu vem por aqui nesse fim de ano?

Dante Accioly disse...

Vou, cara. Quando chegar por aí eu te ligo. Abração.